INVESTIGAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS DA PROFICIÊNCIA EM UMA SEGUNDA LÍNGUA SOBRE A CAPACIDADE DA MEMÓRIA DE TRABALHO
O presente estudo está inserido no contexto das pesquisas que investigam as possíveis vantagens cognitivas do bilinguismo. O objetivo principal foi analisar se o nível de proficiência na segunda língua (L2) está associado a vantagens na capacidade da memória de trabalho. Como objetivo secundário, investigou-se se a idade e a escolaridade são preditores do desempenho nessas tarefas em uma amostra de adultos bilíngues Português-Brasileiro/Inglês. Estudos anteriores apresentaram resultados divergentes em relação às consequências cognitivas do bilinguismo, principalmente no que se refere à capacidade da memória de trabalho, ao contrastar monolíngues e bilíngues, com diferenças entre amostras de crianças, jovens adultos e adultos mais velhos. O estudo buscou investigar se a heterogeneidade da experiência bilíngue, particularmente a proficiência na segunda língua, influencia o desempenho em tarefas com demandas sobre a memória de trabalho verbal e não verbal em adultos bilíngues Português-Inglês, consecutivos, não balanceados e que não estão em contexto de imersão.
Métodos: O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da UFABC. A amostra final foi composta por 85 participantes, com idades entre 18 e 74 anos, todos bilíngues com diferentes níveis de proficiência. A coleta de dados foi realizada de forma computadorizada e remota, utilizando o programa Psytoolkit e o formulário do Google. Após a caracterização dos participantes em relação à experiência bilíngue e proficiência, eles realizaram tarefas de memória de trabalho verbal e não verbal em quatro condições - linha de base positiva, linha de base negativa, facilitação positiva e interferência negativa. Os dados foram analisados por meio de testes de correlação e modelos generalizados de efeitos mistos, para investigar se os fatores proficiência, idade e escolaridade estavam associados e eram preditores da capacidade da memória de trabalho avaliada por meio de acurácia e tempo de reação nas quatro condições.
Os resultados demonstraram que a proficiência foi um preditor da acurácia na condição de facilitação tanto da tarefa verbal quanto da não verbal, independentemente da idade e escolaridade, sugerindo que bilíngues mais proficientes utilizam melhor as pistas em situações de demanda da memória de trabalho em comparação com os menos proficientes. Adicionalmente, a proficiência atuou como um preditor significativo da acurácia na condição de interferência da tarefa verbal, indicando que bilíngues com níveis mais altos de proficiência apresentam um controle inibitório superior em tarefas que demandam memória de trabalho verbal. Em relação à idade dos participantes, houve uma correlação positiva entre a idade e o tempo de reação nas quatro condições de ambas as tarefas, replicando os efeitos da idade sobre a velocidade de processamento das informações, conforme observado em estudos anteriores. Também foi observada uma correlação significativa entre idade e acurácia nas condições de linha de base positiva e facilitação positiva da tarefa não verbal, indicando um declínio progressivo associado ao envelhecimento na memória operacional não verbal. Embora as correlações observadas tenham sido derivadas de associações estabelecidas durante a análise, os resultados indicaram que a variável idade atuou como preditor exclusivamente para o tempo de reação na tarefa não verbal, especificamente na condição de facilitação. Em suma, este estudo destaca a importância da proficiência na segunda língua e a influência da idade no desempenho da memória de trabalho em adultos bilíngues, fornecendo perspectivas valiosas para futuras pesquisas sobre os benefícios cognitivos do bilinguismo.