Quando Zumbi Chegar: disputas pela memória na Fundação Cultural Palmares (2003-2022)
Esta pesquisa investiga as celebrações do 20 de novembro (Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra) e do 13 de maio (Abolição da Escravidão) no âmbito da Fundação Cultural Palmares, entre os anos de 2003 e 2022. Neste recorte temporal há um processo de fluxo e refluxo nos usos públicos da memória pela instituição. Num primeiro ciclo, entre 2003 e 2018, o dia 20 de novembro se consolida no calendário oficial de comemorações, e aumentam as críticas à data da abolição como ato inaugural da liberdade da população negra no Brasil. Num segundo ciclo, correspondente ao governo Bolsonaro (2019-2022), ocorre um movimento de reabilitação das comemorações oficiais da abolição, junto a um esforço político para detratar a memória de Zumbi e as celebrações do Dia da Consciência Negra. Considerando-se que efemérides ou datas comemorativas são lugares de memória, na expressão de Pierre Nora, não há neutralidade ou imparcialidade nas celebrações oficiais. Neste trabalho, pretendo formular conexões entre essas celebrações e projetos políticos de diferentes naturezas: sejam em favor da promoção da igualdade racial, sejam em favor do desmonte das conquistas sociais da população negra na Nova República. Com isso, a intenção é compreender o manejo da memória oficial para legitimação ou desconstrução de projetos políticos voltados à população negra brasileira.