Democracia, populismo penal e punitivismo no Brasil: Uma análise de discurso de ódio contra a pessoa presa no YouTube
O presente trabalho constrói, pela via da interdisciplinaridade, um diálogo entre a Ciência Política e as Ciências Sociais, para observar o itinerário do punitivismo e do populismo penal no Brasil, do pós-regime militar ao cenário da digitalização contemporânea. Percorrendo a trajetória das políticas de segurança pública desde a redemocratização, elenca-se os componentes político-sociais que buscam explicar o avanço da onda conservadora à direita e o consistente uso midiático e político das narrativas de ódio contra as pessoas presas que cometeram delitos, culminando na maciça eleição de parlamentares alinhados às pautas hiperpunitivistas e de políticos de grande representatividade, como o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras lideranças políticas. Diante deste contexto de ascensão do autoritarismo-securitário, observou-se o processo de escolha dos “inimigos sociais”, a partir da estigmatização e da instrumentalização do pânico moral, pelo populismo penal, como artifício de reforço sobre as representações simbólicas do criminoso na mídia. Frente à dinâmica de plataformização da vida, em que as Redes Sociais de Internet têm ocupado um notável espaço no cotidiano e se estabelecido como ambiente central da discussão sócio-política, essa pesquisa concentrou esforços em identificar discursos de ódio sobre as pessoas criminosas mobilizados no ambiente online, especialmente nos comentários do YouTube. A discussão partirá da análise de conteúdos em notícias atinentes à temática da segurança pública, da justiça penal e do sistema carcerário publicados pelos canais da Jovem Pan News e UOL nesta rede social, por meio de metodologia baseada na análise de textual e de conteúdo automatizadas, aliada ao software IRaMuTeQ, que acumula funcionalidades para aprimorar a investigação de corpus volumosos, identificando os vocábulos mais recorrentes, as relações de sentido que se estabelecem entre eles e criando categorias que fomentam o livro de códigos dessa análise. Como principal resultado desta investida, apuramos que as narrativas que se voltam às pessoas presas no online baseiam-se, quase que exclusivamente, em discurso de ódio, que visam diminuir a humanidade dos encarcerados, clamar pela urgente retirada de direitos deles e desejar a morte como política pública de segurança, sempre bastante alinhados aos discurso empreendido por líderes políticos adeptos ao populismo penal, sendo representativamente mais articulado e consistente na mídia que se apresenta como de extrema-direita.