VINHEDO: TERRA DE IMIGRANTES E DE QUEM MAIS?
A NARRATIVA ÉTNICA NA CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DE CIDADE
No contexto abolicionista brasileiro, as políticas migratórias foram um fator decisivo para a
constituição da sociedade e de suas dinâmicas sociais, políticas e econômicas que
identificamos atualmente. O interior paulista foi um grande receptor deste fluxo migratório
devido às lavouras do café que necessitavam sua mão de obra em um momento em que a
escravidão vivia seu processo de abolição. Este é o caso do município de Vinhedo, que
recebeu um enorme número de italianos e italianas, entre outras nacionalidades europeias, que
construíram a cidade da maneira a qual conhecemos hoje. A memória oficial desta região
privilegia esse passado eurodescendente, criando um aparato simbólico presente na narrativa
veiculada sobre a fundação da cidade. Em contrapartida, nega seu passado afrodescendente e
indígena que foi também presente nessa formação. Nesse processo, diferentes faces da mesma
história foram apagadas, criando-se um discurso de cidade baseado na memória vinculada ao
passado da imigração italiana e de sua identidade étnica. Entendendo este contexto a partir das
relações de poder intrínsecas à sustentação de hierarquias raciais, entendemos que o processo
de identificação étnica neste caso é perpassado também pelo vínculo com a branquitude. Por
isso, buscamos compreender: de que forma a narrativa étnica, construída a partir do passado
da imigração italiana em Vinhedo, contribui para a perpetuação de dinâmicas raciais que
incidem na memória e identidade dos vinhedenses? A metodologia identificada para a
execução desta pesquisa, para além de uma investigação bibliográfica e documental, será a
análise do discurso com realização de entrevistas semiestruturadas e a observação participante
em eventos do município de Vinhedo.