Novas tecnologias, controle migratório e direito a migrar: uma análise sobre o processo de informatização do Sistema de Registro Nacional Migratório do Brasil.
A pesquisa a ser desenvolvida toma como ponto de partida o processo de informatização dos procedimentos de cadastro para regularização migratória com a criação do Sistema de Registro Nacional Migratório (SISMIGRA).A partir disso, o objetivo é o de analisar seus efeitos na política migratória brasileira, cuja Lei de Migração n°13.445/2017 apresenta uma visão da pessoa imigrante como sujeito de direitos, articulando com uma reflexão mais ampla sobre o direito à migração e à segurança da informação no Brasil. O novo sistema foi criado para a digitalização dos processos da Divisão de Registro Migratório (DRM) da Polícia Federal e integra o Cadastro Base do Cidadão e o Comitê Central de Governança de Dados (decreto n° 10.046/2019), que tem como função viabilizar uma estrutura de governança no compartilhamento de dados no âmbito da administração pública federal. Nesse processo de construção de um regime da razão de Estado digitalizada, no caso da migração, a prevenção ao crime e ao tráfico de pessoas é utilizado como argumento para um controle securitista, seguindo a onda de recrudescimento das políticas migratórias de países europeus e dos Estados Unidos, agora também predominante na América do Sul. Essa temática, além de dizer respeito à reflexão sobre o papel, legitimação e atuação do Estado diante dos fluxos transnacionais da atualidade, bem como às novas tecnologias de vigilância do mesmo, toca também na questão das metodologias e transparências na produção de dados, já que a Polícia Federal, enquanto instituição responsável no país pelo registro migratório, tem em suas bases uma fonte importante de dados populacionais, que vêm sendo utilizadas ao longo dos anos como subsídios para a tomada de decisão de políticas públicas e para pesquisas sobre a temática migratória no Brasil. Para tanto, a pesquisa será desenvolvida a partir de levantamento bibliográfico, análise de documentos oficiais e entrevistas semiestruturadas com atores-chave no processo de idealização, criação e implementação do SISMIGRA. A metodologia também contará com a análise de formulários analógicos de cadastro de regularização migratória e do cadastro digital do SISMIGRA. De forma complementar, serão realizadas análises estatísticas de bases de dados secundárias disponibilizadas pelo Departamento da Polícia Federal (DPF) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).