BURGUESIAS E REGIONALISMO: UMA ANÁLISE DO MERCOSUL
O objetivo desta dissertação é propor uma formulação teórica poulantziana para análise do regionalismo. Para tal, analisamos a experiência sul-americana do Mercosul como objeto. Buscamos mostrar que os conceitos propostos pelo teórico marxista Nicos Poulantzas são importantes ferramentas de contribuição à área de Relações Internacionais e, em especial, para a questão da integração regional. Por meio do conceito de bloco no poder e do fracionamento da classe burguesa em burguesia compradora, nacional e interna, formulamos a proposição de que a configuração do bloco no poder e a mudanças da fração de classe hegemônica podem direcionar o Mercosul para diferentes modelos de regionalismo. Isso ocorre, pois o regionalismo não constitui uma estrutura supranacional que suplanta os Estados-nações, dessa forma, torna-se um arranjo que depende de governos e dos contextos históricos em que se desenvolve. Isso porque as disputas de classe que ocorrem no interior de determinado Estado podem modificar o modelo do regionalismo existente. Desse modo, propusemos uma análise do Mercosul em quatro fases que estão ligadas às mudanças de hegemonia no bloco no poder no Brasil. Dizemos que (i) quando a burguesia compradora é a fração hegemônica no bloco no poder, Estado brasileiro busca pelo regionalismo aberto, como observamos na Fase I (1991-1997) do Mercosul. (ii) Quando a burguesia interna é a fração hegemônica, o formato do regionalismo é multifacetado, como na Fase III do Mercosul (2003-2011). E, por fim, (iii) quando há um acirramento da disputa entre as frações burguesas e/ou um descompasso entre os blocos no poder, o regionalismo entra num estado de instabilidade e incerteza, como nas Fases II (1998-2002) e IV (2012 - atual) do Mercosul.