Células-tronco da polpa de dentes decíduos humanos cultivadas em arcabouço de dentina para regeneração tecidual
A engenharia de tecidos é uma área interdisciplinar que apresenta três componentes essenciais: células, arcabouço e fatores indutores. Este campo tem como objetivo principal cultivar as células nos arcabouços para restaurar partes do corpo danificadas. As células utilizadas podem ser obtidas de diferentes fontes como, por exemplo, da polpa de dentes decíduos. Na polpa dentária são encontradas as células-tronco, que despertam grande interesse na área médica. O arcabouço escolhido deve apresentar uma estrutura biocompatível, podendo ser uma fonte de fatores indutores. A dentina é um tecido conjuntivo mineralizado que vem despertando grande interesse para utilização na restauração tecidual, devido às suas características. Sendo assim, esta pesquisa avaliou a obtenção e caracterização das células-tronco da polpa de dentes humanos decíduos esfoliados (SHED) para o estudo da utilização da dentina como arcabouço, visando à diferenciação osteogênica. Os arcabouços foram submetidos a diferentes tratamentos para desmineralização e foram caracterizados para análise de suas propriedades. As células foram obtidas pelo cultivo de explante, com e sem a utilização da enzima tripsina. A caracterização das células foi, primeiramente, efetuada através de análises morfológicas, utilizando diferentes técnicas de microscopia (luz, fluorescência e eletrônica de varredura). As células também foram avaliadas por citometria de fluxo, com os anticorpos CD45, CD34 e CD90. Os arcabouços de dentina foram obtidos através do processamento de dentes molares humanos. Após o preparo, as dentinas foram separadas em quatro grupos para realização dos tratamentos: controle (sem tratamento), tratamento 1 (EDTA), tratamento 2 (EDTA e ácido cítrico) e tratamento 3 (HCl). Para caracterização dos arcabouços foram realizadas avaliações da perda de massa, estrutura, composição química, resistência mecânica e citotoxicidade. Em seguida, as células foram inoculadas sobre as dentinas para análise da interação células-arcabouço. Com os resultados, foi verificado que o procedimento enzimático auxiliou na liberação das células do tecido pulpar. As células obtidas apresentavam padrão de crescimento, morfologia e antígenos de superfície característicos das células-tronco mesenquimais. Na caracterização dos arcabouços foi observado que os tratamentos contribuíram na desobstrução dos túbulos dentinários. Foi também averiguado que os agentes desmineralizantes foram eficientes na remoção dos minerais das dentinas, expondo a parte orgânica da matriz (colágeno). O tratamento 3 foi o que apresentou maior perda da porção mineral, seguido dos tratamentos 2, 1 e controle. A desmineralização das amostras provocou alterações na massa e nas propriedades mecânicas dos arcabouços. A maior desmineralização das amostras causou uma diminuição da resistência à tensão. O teste da citotoxicidade demonstrou que o tratamento 3 provocou uma diminuição na densidade celular. Na avaliação morfológica das células em contato com os arcabouços, foi visualizado que as SHED se desenvolveram normalmente no grupo controle e nas amostras submetidas aos tratamentos 1 e 2. Portanto, foi verificado que a dentina apresenta características propícias para o cultivo celular e os tratamentos 1 e 2 não provocaram alteração no desenvolvimento celular.