O EFEITO NEUROPROTETOR DA FRAÇÃO PEPTÍDICA DO VENENO DA SERPENTE B. jararaca CONTRA O ESTRESSE OXIDATIVO EM CÉLULAS NEURONAIS DO TIPO PC12, É DEPENDENTE DO METABOLISMO DA L-ARGININA - VIA DE PRODUÇÃO DAS POLIAMINAS
A fração peptídica de baixo peso molecular (FBP) do veneno da serpente Bothrops jararaca foi descrita na literatura por propiciar a sobrevivência das células do hipocampo em cultura contra a apoptose induzida por H2O2, reduzindo o estresse oxidativo e indicadores associados. Entretanto, esse efeito não foi observado na linhagem SH-SY5Y que são células que expressam dopamina e são comumente utilizadas em estudos de neurodegeneração. No presente estudo, outro tipo celular foi adotado para analisar a atividade neuroprotetora em um modelo dopaminérgico, e foi avaliado a atividade neuroprotetora da FBP em células neuronais da linhagem PC12 que expressam as catecolaminas dopamina e norepinefrina, frente aos danos celulares ocasionados pela condição de estresse celular induzido por H2O2 através das análises de integridade celular e metabolismo mitocondrial. O envolvimento do metabolismo da L-arginina no mecanismo de neuroproteção foi verificado utilizando-se inibidores específicos da oxido nítrico sintetase (NOS) e argininosucinato sintetase (AsS) – L-Name e MDLA, respectivamente nas análises de produção de EROs; síntese de NO; e dosagem de ureia como marcador indireto da atividade arginase. Células foram pré-tratadas a 37°C por 4 h com FBP (25 a 0,04 µg.mL-1), e então foi seguido pela adição de H2O2 (0,5 mM) por 20 h. A FBP a 0,78 µg.mL-1 aumentou a integridade celular (113,6 ± 6,3%) e metabolismo (96,3 ± 10,3%) contra a neurotoxicidade induzida por H2O2 (75,6 ± 5,8 %; 66,5 ± 3,3%, respectivamente), reduzindo significativamente a produção de EROs. Contudo, na presença de MDLA, a FBP não demostrou atividade neuroprotetora e nem reduziu EROs o que pode sugerir que a atividade neuroprotetora da FBP é dependente da disponibilidade de L-arginina. Ainda, a FBP restaurou os níveis de nitritos em relação ao estresse oxidativo. Curiosamente, o L-NAME inibiu o efeito neuroprotetor da FBP em PC12, indicando que a produção de NO pode estar envolvida com o mecanismo neuroprotetor da FBP. Verificou-se ainda que a ureia produzida pelas células PC12 foi excretada para o meio extracelular e que a FBP aumentou os níveis de ureia em relação ao grupo exposto ao H2O2, sugerindo que os níveis de ornitina também aumentaram. No geral, este é o primeiro estudo a mostrar que o mecanismo neuroprotetor da FBP frente aos efeitos neurotóxicos ocasionados pelo estresse oxidativo em células neuronais do tipo PC12, possivelmente pode ser explicado pelo aumento na biodisponibilidade da L-arginina, causada pelo aumento da atividade AsS, e a geração de seus metabólitos. Sabe-se que a ornitina pode formar putrescina que serve como precursor imediato para a síntese das outras duas poliaminas, espermidina e espermina. Isso poderia ser um indicativo de que a síntese de poliaminas pode ser um mecanismo pelo qual a FBP desempenha a sua atividade neuroprotetor.