Avaliação dos efeitos de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 na microbiota intestinal humana: uma abordagem in vitro
O trato gastrointestinal (GI) humano abriga uma população complexa e dinâmica de microrganismos conhecidos como microbiota intestinal (a maioria deles bactérias, mas também vírus, fungos e protozoários), que desempenha uma importante influência no hospedeiro durante os estados de homeostase e doença. Como tendência, na última década, muitos estudos relataram o papel da dieta como um dos principais fatores na modulação da microbiota intestinal ao longo da vida. Embora muitos artigos relatem o efeito de fibras, probióticos, carboidratos e outros nutrientes e substâncias na microbiota intestinal, pouco se sabe sobre o impacto dos ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 (PUFAs) nesse ambiente. Assim, neste estudo propomos a avaliação da influência dos PUFAs ômega-3 eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA) na microbiota intestinal através de um sistema in vitrodenominado TWIN-SHIME - Simulador do Ecossistema Microbiano Intestinal Humano. SHIME é um simulador multicompartimental, altamente flexível e dinâmico do intestino humano e um dos poucos modelos que mimetiza todo o trato gastrointestinal, incorporando estômago, intestino delgado e diferentes regiões do cólon. Neste trabalho, mimetizamos a parte luminal e mucosa de 5 regiões do intestino (estômago, íleo, cólons ascendente, transcendente e descendente) em réplicas denominadas seções A e B. As fezes de um doador saudável foram inoculadas por 28 dias divididos em 14 dias de estabilização, 7 dias de controle e 7 dias de tratamento com PUFAS ômega-3 DHA e EPA comercial. Nesse período, foram coletadas amostras para avaliar a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e também mudanças importantes na microbiota intestinal por meio de análises metagenômicas. Este estudo mostrou um aumento significativo da produção de acetato nos cólons ascendente e descendente e uma diminuição significativa na produção de butirato em todas as regiões do intestino após 7 dias de tratamento. Além disso, a análise metagenômica realizada pelo sequenciamento do gene 16S rRNA na plataforma Illumina MiSeq mostrou que o tratamento com EPA e DHA aumentou a abundância do filo Bacteroides nas regiões do cólon e também permitiu o crescimento deAkkermansia muciniphila conhecida como uma nova e promissora bactéria probiótica da próxima geração.