BIOPROSPECÇÃO DE MOLÉCULAS NEUROPROTETORAS A PARTIR DA FRAÇÃO PEPTIDÍCA DO VENENO DA SERPENTE Naja mandalayensis
A identificação por compostos neuroprotetores vem se destacando como estratégias alternativas para o tratamento de doenças neurodegenerativas. Estudos tem demonstrado que a fração peptídica de baixa massa molecular (FP) ou peptídeos específicos do veneno da serpente Bothrops jararaca (família Viperidae) apresenta neuroproteção contra o estresse oxidativo em células primárias de hipocampo e neuronais do tipo PC12, indicando que mais serpentes e de diferentes famílias, pode ter na composição de sua FP compostos com propriedades neuroprotetoras. Assim, no presente estudo, buscou-se realizar a bioprospecção compostos neuroprotetores na FP do veneno da serpente, Naja mandalayensis (FP-Nm) da família Elapidae, em duas linhagens de células neuronais, PC12 indiferenciadas e mHippoE-18 diferenciadas, frente ao estresse oxidativo induzido pelo H2O2. No modelo de neuroproteção, células foram pré-tratadas por 4 h com a FP-Nm (10, 1 e 0,01 µg·mL-1), seguido da adição do H2O2 (0,5 mmol·L-1) por 20 h. A FP-Nm apresentou efeitos neuroprotetores apenas em células mHippoE-18. A concentração de 0,01 µg·mL-1 da FP-Nm foi capaz de aumentar a integridade celular e metabolismo mitocondrial em relação a células tratadas com o H2O2, bem como a FP-Nm sozinha diminuiu os níveis de EROs basal. A concentração de 0,001 µg·mL-1 da FP-Nm testada posteriormente neste modelo, também foi capaz aumentar a integridade das células em relação H2O2, assim como sozinha diminuir os níveis de EROs basal. A análise de label-free da FP-Nm sugeriu que a neuroproteção mediada aconteceu por meio da regulação translacional e da degradação de proteínas defeituosas por meio do complexo proteassoma. Além disso, a expressão proteica diferencial da FP-Nm alterou o metabolismo, a síntese proteica, a atividade sináptica e o transporte intracelular, sugerindo que a FP-Nm contém uma rica mistura de peptídeos bioativos de interesse farmacológicos. O subfracionamento da FP-Nm também foi realizado por cromatografia líquida de alta eficiência de fase reversa e foram obtidas 7 subfrações da FP-Nm (SFs). Estas SFs foram avaliadas frente ao estresse oxidativo, no modelo de neuroproteção, em células mHippoE-18. Ao avaliar os efeitos das SFs no modelo de neuroproteção, a SF4 e SFX foram capazes de aumentar a integridade das células, enquanto a SF5 aumentou o metabolismo mitocondrial, em relação ao H2O2, e as três SFs sozinhas foram capazes de reduzir os níveis de EROs basal. A análise por espectrometria de massas das três SFs, revelou que a SF4 possui 19 proteínas, que a SF5 possui 27 proteínas e que a SFX possui apenas 4 proteínas, entre elas estão presentes citotoxinas, toxinas de três dedos e neurotoxinas. Assim, a ausência de respostas neuroprotetoras da FP-Nm em células PC12, pode ser devido às células serem indiferenciadas e apresentarem características de neurônios imaturos, enquanto as células mHippoE-18 são diferenciadas. Em síntese, os resultados sugerem que a FP-Nm pode ter mecanismos antioxidantes e a ação do proteassoma que explicariam seus efeitos em células mHippoE-18, bem como os compostos neuroprotetores presentes nas três SFs da FP-Nm identificadas até o momento.