Deslocamentos Populacionais sob a Perspectiva da Demografia Ambiental no Antropoceno
O planeta Terra está passando por um processo profundo de transformação, seja em escala como em intensidade. A magnitude é tão ampla, que autores sugerem que o planeta teria deixado a era geológica do Holoceno para uma nova era, o Antropoceno. Este trabalho não traz uma discussão geológica sobre o planeta, mas sim uma caracterização social do Antropoceno, ou seja, um conceito que simboliza as mudanças ambientais em escala global e impulsionadas pelas atividades do sistema humano. O sistema humano é composto por processos como a urbanização, a industrialização, a produção de energia através de combustíveis fósseis, agricultura de larga escala; e atividades como essas impulsionam grandes mudanças na sociedade. O Antropoceno sugere que o modo de vida humano é capaz de transformar as dinâmicas biogeoquímicas do planeta em uma escala nunca antes vista; por outro lado, essas transformações também provocam consequências no sistema humano, sob o formato dos desequilíbrios climáticos (inundações, secas, furacões, tempestades), por exemplo. Uma questão bastante proeminente é a desigualdade, porque apesar das mudanças ocorrerem em todos os lugares (diferindo em frequência e intensidade), o impacto delas não ocorrem de maneira homogênea; pelo contrário, afetam mais certos grupos específicos, como aqueles mais vulneráveis, tanto em conceito físico, como econômico e social. Não obstante, um dos principais desafios contemporâneos diz respeito ao deslocamento forçado de pessoas em decorrência dessas mudanças e desequilíbrios da dinâmica do planeta, fazendo que o número de deslocados ambientais seja praticamente três vezes maior do que o de deslocados por conflitos e violência. Assim, este trabalho se constroi de duas formas: uma teórica e outra mais empírica. Na primeira parte, o objetivo é fazer uma construção teórica do Antropoceno e da Demografia Ambiental a fim de caracterizar os deslocamentos, ou seja, entender os grupos mais vulneráveis, por que a mobilidade tem sido a dinâmica central na contemporaneidade e como os processos político-econômicos da sociedade humana interferem nessas dinâmicas. A terceira parte, que é empírica, foi construída através de uma sistematização de dados sobres os deslocados ambientais em espaço interno, isto é, dentro da fronteira territorial do espaço nacional, a partir dessas formulações iniciais, foram trazidos alguns exemplos como o da Síria, Bangladesh, Somália e Nigéria, a fim de compreender como teoria e empiria se completam e auxiliam no entendimento da questão proposta nesta dissertação.