IMPACTO Das POLÍTICAS CHINESAS DE DESENVOLVIMENTO NA PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL
O processo de desenvolvimento na China, chamado de socialismo com características chinesas, inicia-se pela agricultura, no final da década de 70 do século passado, período em que a China tinha sérios problemas relacionados à segurança alimentar. A primeira ação, nesse sentido, foi voltar parte dos sistemas de produção agrícola para o comércio, pois, até então, o governo de Pequim controlava a produção e seus excedentes. Com esse novo “contrato”, os agricultores podiam comercializar a parte do excedente, excluindo o controle sobre os excedentes vigentes até então (ARRIGHI, 2008).
A partir dessa medida liderada e implantada por Deng Xiaoping, a agricultura chinesa cresceu à taxa de 4,6% nos últimos 30 anos (NBSC, 2022), tornando a China a maior produtora de alimentos do mundo, assim como a maior consumidora no século XXI. Essa crescente produção faz frente a uma crescente demanda por alimentos, oriunda do aumento da renda e das mudanças de dietas alimentares provocadas pelo processo de urbanização e mudanças no modo de vida dos chineses.
Ao analisar os números da produção, importação e consumo de alimentos na China, percebe-se que as políticas de segurança alimentar chinesa estão fundadas também nas questões relacionadas a emprego e renda local, pois nos últimos anos tem-se notado uma política voltada para a compras de matérias-primas em detrimento de produtos com um mínimo de valor agregado, com o objetivo de processá-los internamente.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (BRASIL, 2023 a), na safra 2021/2022, o Brasil produziu 125,54 milhões de toneladas de soja, no ano de 2022 foram exportados do Brasil para a China 53,61 milhões de toneladas, o que significa 17 milhões de hectares plantados só para atender às compras chinesas de um total de 41 milhões de hectares plantados com soja na safra.
Nossa hipótese é que existe uma estratégia por parte do Estado chinês que influenciou o aumento da demanda por soja no Brasil desde a entrada da China na Organização Mundial do Comércio – OMC em 2001, com o objetivo de assegurar o abastecimento de soja para a produção de proteína animal internamente, passando de um mero consumidor para se posicionar como um organizador e controlador cada vez maior dos elos da cadeia de valor da soja no nível de Brasil e global.