Indústria 4.0: uma análise Pós-Keynesiana de sua natureza e de seus impactos
A chamada Indústria 4.0, também denominada Quarta Revolução Industrial, Industrial Internet of Things, ou ainda Smart Manufacturing, tem sido abordada nos anos recentes como uma série de inovações nos campos de produção, consumo, distribuição e gerenciamento de valor. As principais tecnologias que a compõem abrangem a chamada manufatura aditiva, a ‘internet das coisas’ (IoT [internet of things]), sistemas ciber-físicos, inteligência artificial, big data, biologia sintética, tecnologia 5G, entre outras. A diferença crucial desta suposta nova Revolução Industrial com relação às suas precedentes residiria na integralização entre diversas áreas do conhecimento e da fusão entre o físico, o biológico e o digital na construção de novas maneiras de produzir, ofertar, distribuir e consumir bens e serviços. Acompanhadas pela velocidade de difusão destas tecnologias, maior conectividade e compartilhamento de informações, tais mudanças poderiam ser consideradas qualitativamente disruptivas. Estruturalmente, não há uma formalização amplamente aceita sobre o conceito de Indústria 4.0 e suas variações. É ressaltado pela literatura, no entanto, que esta pode trazer consigo transformações no perfil de emprego, na difusão do progresso técnico e na dinâmica de distribuição e crescimento econômico. Tem-se, portanto, como objetivo deste trabalho compreender sob uma perspectiva pós-Keynesiana o fenômeno da Indústria 4.0 e seus possíveis impactos econômicos sobre a distribuição, o progresso técnico e o crescimento da renda, considerando a dinâmica existente entre as noções de demanda efetiva, nível de emprego, taxas de lucro e a intensidade de capital. Pretende-se efetuar um levantamento, classificação e interpretação da literatura, a fim de compreender tais mudanças a partir de seus atuais teóricos, divulgadores e críticos, seguindo uma análise a partir da tradição pós-keynesiana. Tal exercício se faz relevante para uma reflexão mais profunda a níveis econômicos, políticos e sociais que serão trazidos pelos impactos desta nova rodada de inovações. Avançamos como hipótese preliminar, a ser desenvolvida ou descartada ao longo deste estudo, que tendencialmente os impactos das transformações da indústria 4.0 poderiam levar a uma maior concentração da renda, dada a maior utilização de técnicas capital-intensivas conjugada com uma transformação na composição de crescimento do produto agregado no sentido de uma menor participação dos salários.