Questão racial e práticas de Ciência e Tecnologia no âmbito do Projeto Encontro de Saberes (2010-2013)
Esta dissertação analisou a questão racial no âmbito do Projeto Encontro de Saberes (2010-2013), construído a partir da atuação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão do Ensino e na Pesquisa (INCTI). De modo específico, discutiu-se como se deu, no contexto dessa ação, o estabelecimento de diálogos epistemológicos entre conhecimento científico e os chamados conhecimentos tradicionais afro-brasileiros. A hipótese provisória era de que as práticas de ciência e tecnologia, no contexto investigado, foram atravessadas pelo racismo estrutural que tem entre suas expressões o racismo epistêmico, materializado pelo apagamento, invisibilidade e silenciamento de saberes não eurocentrados. As referências centrais desta pesquisa estão alinhadas às perspectivas epistemológicas que tomam como referência o chamado Sul Global. Para tanto, consideramos as contribuições de autores como Santos (2000, 2008), além da perspectiva dos estudos decoloniais a partir de Grosfoguel (2008, 2011). Do ponto de vista dos instrumentos metodológicos, esta pesquisa teve uma abordagem qualitativa e foi realizada por meio de levantamento bibliográfico e documental. Na pesquisa bibliográfica, realizada por meio de buscas de teses, dissertações, artigos científicos etc, procurou-se analisar como foi abordada a relação entre ciência e tecnologia e questão racial no contexto definido. O levantamento documental foi realizado em materiais disponibilizados no site do Ministério da Ciência e Tecnologia, do Conselho Nacional Científico e Tecnológico – CNPq e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino e na Pesquisa (INCTI) e teve como objetivo verificar como os materiais analisados contemplam a interação entre ciência e cultura, estimulando diálogos epistemológicos entre os conhecimentos ditos “científicos” e os chamados conhecimentos tradicionais afro-brasileiros. Como resultado, esta pesquisa constatou, entre outros aspectos, que: a) a constituição de um instituto, como o INCTI, voltado para ciência e tecnologia foi importante política, epistemológica e metodologicamente para se conseguir conectar inclusão, ciência, tecnologias, ensino e pesquisa com relações raciais; b) houve, na ação investigada, uma construção de práticas de CT&I a partir de estratégias contra-hegemônicas, ou seja, como processos construídos na luta, em grupos sociais oprimidos se apropriam de filosofias e práticas, como as leis, o direito internacional etc, ressignificando-os, reconfigurando-as, subvertendo-as e transformando-as em ferramentas contra a dominação; c) houve importante resistência de parte da comunidade científica diante da criação de um instituto voltado para ciência, pesquisa e ensino, que vincularia sua identidade à questão étnico-racial; d) as práticas identificadas não foram capazes de romper o silêncio quanto à construção de diálogos dos saberes afro-brasileiros com áreas das chamadas ciências duras; e) bem como não fizeram menções diretas aos impactos econômicos gerados na assimetria da geopolítica do conhecimento entre Norte e Sul Global.