Votando em branco: uma análise sobre o papel da branquidade estrutural nas eleições presidenciais estadunidense de 2016 e brasileira de 2018
Em novembro de 2016, a controversa figura de Donald Trump foi eleita como
45º presidente dos Estados Unidos da América, e apesar de uma campanha
marcada pelo machismo, racismo e xenofobia, teve forte adesão da população
estadunidense. Com seu slogan: Make America Great Again, Trump remetia seu
projeto político à volta de um passado glorioso, o American Dream, prometendo
reverter a suposta degradação que sua nação vinha sofrendo. Quanto mais o
candidato demonstrasse posições extremistas contra minorias sociais e políticas
sociais, mais sua imagem ganhava relevância e mais fiel era o seu público, que só
crescia. Após sua vitória, diversos analistas políticos e parte da grande mídia
tentaram enquadrar sua vitória como resultado com a insatisfação da população
com a crise econômica que o país vinha passando, e não com a emergência de
outras questões. Contudo, um ano após a sua eleição, em agosto de 2018, grupos
de extrema direita, dentre eles supremacistas brancos, marcharam pelas ruas de
CharlottesVille, estado da Virgínia, com seus rifles semi-automáticos, suásticas,
bandeiras confederadas e placas em apoio a Trump. Empoderados, os
supremacistas brancos pareciam dar o sinal de “chega”, posicionando-se contra as
transformações sociais que seu país sofreu na última década, e que foram o grande
enfoque das críticas de Donald Trump. A partir desse momento, diversos autores
passaram a detectar um forte elemento na identidade do eleitor de Donald Trump, a
branquidade. Em 2018, na República Federativa do Brasil, uma figura muito
semelhante a Donald Trump também foi eleita. Jair Messias Bolsonaro, ex-capitão
do Exército Brasileiro e Ex-Deputado Federal, conhecido por suas críticas a políticas
sociais iniciadas nas últimas décadas e sua perseguição a minorias, foi eleito
presidente do executivo federal brasileiro. Considerando a forma como que ambas
personalidades ganharam apoio de parcela da população a suas posições radicais,
e muitas vezes abertamente preconceituosas, estabeleceremos um paralelo entre
os dois casos buscando entender o papel da branquidade como ideologia em suas
eleições. Até que ponto o ‘ressentimento branco’,a sensação de ser ameaçado pela
crise económica e o avanço de políticas afirmativas para populações racializadas
pode ter desempenhado um papel em suas eleições e governos ?