Desindustrialização no Brasil, 1980-2018: uma interpretação complementar
A presente dissertação interpreta as transformações ocorridas na indústria brasileira entre os anos de 1980 e 2018 a partir de uma abordagem sistêmica que recorre às dimensões histórica, econômica, política e social que caracterizam a Economia Política crítica como campo das Ciências Sociais. O estudo desse processo, conhecido como desindustrialização, foi elaborado por meio da consulta de dados de fontes secundárias e pela revisão bibliográfica de autores que se dedicaram à análise da economia brasileira desse período. O início dos anos 1980 marcou uma ruptura no padrão de desenvolvimento econômico do país. Interrompeu-se o aprofundamento da industrialização que havia sido, no período anterior, o motor do crescimento econômico nacional. Rompeu-se assim com um movimento da economia brasileira que havia experimentado, entre 1947 e 1980, a maior média anual de elevação do produto interno, em todo o mundo. Nossa interpretação sustenta que a experiência brasileira de industrialização foi fruto de condições históricas locais, mas igualmente do movimento sistêmico mundial do capitalismo, comandado e configurado, na forma do regime fordista de acumulação, a partir dos países centrais do sistema. Em consequência, entendemos que a desindustrialização observada nos últimos 40 anos tem de ser vista como resultado também desse mesmo movimento sistêmico, mas agora configurado como um regime de acumulação com dominância financeira, em conjunto com a condição periférica do país. As transformações do capitalismo foram aqui analisadas por meio da revisão bibliográfica de partes da obra do economista francês François Chesnais, em sua releitura das teorias de Marx sobre dinheiro, crédito e juros, e também pela revisão da contribuição de outros autores do mesmo campo. Em nossa interpretação, articulamos três concepções teóricas da Economia Política crítica atual: i) a financeirização do capitalismo contemporâneo; ii) a subjacente crise de sobreacumulação de capital; e iii) o regime atual de baixo crescimento que decorre de i) e ii) e é comandado pelos oligopólios globais. Buscamos assim oferecer uma interpretação complementar que contribua para a compreensão do fenômeno e para sua caracterização como um processo de desindustrialização de tipo precoce e negativa, tendendo à reprimarização produtiva. Novas questões e propostas de pesquisa para este tema são também propostas.