A evolução dos estudos rurais no Brasil - uma abordagem sociológica
O trabalho analisa a emergência e a evolução do campo dos estudos rurais no Brasil, buscando compreender como se modificaram suas articulações internas e externas. Apoiado no conceito de campo científico de Bourdieu, procura explicar a estrutura e a mudança desse ramo das ciências sociais a partir das injunções entre seus atributos próprios e outros domínios sociais. A análise se apoia em três dimensões: a) a dimensão epistemológica, pela evolução dos temas, teorias e métodos usados; b) a dimensão institucional, com foco no financiamento, na formação dos programas de pós-graduação, centros de pesquisa e associações; e c) a societal, pelas interdependências entre a ciência e a sociedade, incluindo a circulação dos cientistas. Para isso, foram analisadas obras de referência, balanços da literatura já produzidos e textos biográficos de pesquisadores chave. Concluiu-se que a trajetória do campo dos estudos rurais foi moldada por lutas concorrenciais, e por variações nas formas de relação com outras esferas do mundo social, que determinaram sua capacidade de refratar as demandas externas, especialmente do campo político, dando origem a diferentes agendas de pesquisa conforme os contextos de cada época. Identificou-se três etapas da trajetória dos estudos rurais: sua emergência entre 1940 e 1960, marcada pela diferenciação do campo em relação ao debate agrário do campo político; a consolidação nas décadas de 1970 e 1980 com diversificação de agendas e práticas e com fortalecimento epistemológico e institucional; e, entre 1990 e 2010, com uma maior tensão na dialética entre a autonomia e a heteronomia desse campo.