AS RELAÇÕES DE GÊNERO EM ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS DIANTE DA REALIDADE DE INSEGURANÇA HÍDRICA: UMA ANÁLISE FEMINISTA DO PLANEJAMENTO TERRITORIAL
O objetivo desta dissertação consiste em analisar como a construção social de gênero distribui as responsabilidades pelas práticas de acesso à água em contexto de moradias precárias no espaço urbano, tendo como estudo de caso a comunidade Mangueirinha, localizada no extremo leste do município de São Paulo, um assentamento precário que apresenta vivências diversas de acesso, uso e gestão da água. Para este fim, partiu-se da perspectiva teórica e prática da Ecologia Política Feminista e sua contribuição para o planejamento territorial, aprofundando questões socioambientais do direito à água em escalas menos visíveis, como da casa e do corpo, entrelaçada com as relações de poder de gênero. Com a aplicação de uma metodologia feminista, o objeto de estudo do trabalho são as experiências corporificadas que moradores e moradoras da comunidade Mangueirinha vivenciam frente a realidade de insegurança hídrica e as diversas estratégias que utilizam diariamente para superá-la. Tais experiências corporificadas são a materialização da violência de gênero, da distribuição desigual de infraestruturas no território urbano e da naturalização da insegurança hídrica no cotidiano. Adota-se, então, uma visão crítica sobre o acesso à água em assentamentos precários e abre-se espaço para o debate de como as relações sociais de gênero são produzidas em contexto de moradias precárias. Assim, a pesquisa traz como contribuição uma possibilidade de formulação de políticas públicas mais coerentes com a realidade da parcela da sociedade que vivencia a insegurança hídrica cotidianamente, bem como amplia os estudos de gênero na área da Ecologia Política Urbana em diálogo com o campo do Planejamento Territorial, possibilitando um fértil terreno de mudança teórica e prática.