Performatividade como crítica: mudança conceitual na teoria crítica de Judith Butler
Judith Butler publica Problemas de Gênero (1990) em um momento de disputas acirradas na teoria feminista norte-americana dos anos 1990 sobre a questão da identidade. Partindo de uma análise do poder de matriz foucaultiana, Butler problematiza a centralidade concedida à categoria “mulheres” e defende que o feminismo deve abrir mão dela como seu fundamento. Para sustentar essa posição, Butler realiza uma genealogia dessa categoria, retomando os discursos de poder que estruturaram a concepção de identidade como pré-requisito metodológico e normativo da política. Ao fazer isso, Butler busca não apenas rejeitar a distinção sexo/gênero, aceita por muitas teóricas feministas, apontando para a performatividade de suas posições, como também apresentar o processo de formação da identidade, de acordo com o qual gênero é o resultado psíquico de uma incorporação melancólica. Posição esta que rendeu inúmeras críticas. Em Debates Feministas (1991), a teórica Seyla Benhabib critica as consequências da teoria da performatividade de Butler, que ao incorporar uma análise Foucaultiana, decretaria a Morte do Sujeito, pondo em risco conceitos como autonomia, agência e intencionalidade que, segundo ela, são imprescindíveis para a transformação e resistência social. Tendo essas dificuldades em vista, Butler retoma essa discussão em 1997 com o livro A Vida Psíquica do Poder. Neste livro, Butler parte da teoria da sujeição de Foucault e resgata a psicanálise - numa combinação teórica incomum - para mostrar que o poder que nos sujeitamos em nossa formação é o mesmo que nos permite a resistir. Assim, seria possível dizer que os sujeitos são formados através da repressão, mas não completamente determinados por elas. Essa dissertação visa compreender como Butler responde às críticas de Problemas de Gênero e reestrutura sua teoria da performatividade na medida em que aprofunda sua análise sobre a estrutura melancólica de formação do gênero.