O Além-do-Homem Como Alternativa ao Trans-Humanismo
A associação do conceito nietzschiano de além-do-homem com o trans-humanismo tornou-se tema de acirradas discussões internacionais. Com o intuito de ir além da polêmica, esta dissertação adotou como objetivo analisar as possibilidades da adoção da ética do além-do-homem como alternativa ao trans-humano. Inicialmente, levantou-se a hipótese que ambos os conceitos são distintos, têm bases valorativas diferentes, sendo que o primeiro pode ser alternativa desejável ao segundo. Na análise conceitual do trans-humanismo, utilizou-se como ponto de partida a obra A História do Pensamento Trans-Humanista, de Nick Bostrom, e Trans-Humanismo: a busca tecnológica do melhoramento humano, de Antonio Diéguez. Estas colocaram em evidência as variáveis valorativas intrínsecas ao conceito: o cientificismo e a melhoria do humano. Foram analisadas, então, as relações do pensamento trans-humanista com o Positivismo de Auguste Comte, com o evolucionismo de Charles Darwin e o com o eugenismo de Francis Galton. Posteriormente, ao abordar a filosofia de Nietzsche, na fase madura de sua produção, foi examinado o conceito de vontade de potência, que coloca o homem como criador de valores, a ciência moderna como expressão de decadência, o niilismo como processo histórico de criação e destruição de valores, o além-do-homem como possibilidade aberta ao homem superior empenhado em tornar-se quem é, aceitando a vida com seus obstáculos e suas dores. Foi possível constatar que o além-do-homem como alternativa ao trans-humanismo, exige a criação de uma gaia ciência, a aceitação do sofrimento e da dor como via privilegiada e indispensável do tornar-se quem se é e de superação de si. Embora sejam filosofias divergentes e diante do avanço irreversível do desenvolvimento tecnocientífico, a filosofia de Nietzsche ainda se mostra um caminho interessante de reflexão frente ao trans-humanismo, pois aponta, sobretudo, para possibilidades emancipatórias.