CARTOGRAFIAS ANEDÍPICAS: escritas entre a esquizo e a psicanálise.
É principalmente da quimera entre a esquizoanálise e a psicanálise freudiana que se compõem esta cartografia. Sem começo e nem fim, esse texto eclode do traçado daquilo que se conceitua como sendo uma esquizografia, um método de escrita-pesquisa e uma ética-estética que é extraída de “O anti-Édipo” de Deleuze & Guattari e operada no agora. Reconhece-se o estilo anedípico desta obra, que aqui é esgotado enquanto uma ausência de estilo, uma agramaticalidade condizente com uma literatura esquizofrênica. Com isso, abre-se espaço para um vagar delirante que produz mapas movediços entre O anti-Édipo e as ressonâncias da feiticeira metapsicologia freudiana. Cortes-fluxos-esquizos rasgam a integridade do texto em prol de um povoamento heterogêneo, produzindo assim singularizações inerentes à esta cartografia. Formula-se uma clínica dos desvios e das conjunturas, que permite constatar que a esquizoanálise não é uma anti-psicanálise. Esquizofrenizar a psicanálise é verificar as mobilizações que o processo esquizofrênico causa na centralidade representativa de Édipo (esse dito crivo das formações subjetivas, balizador da realidade), promovendo assim o esquizo como personagem conceitual e potência instauradora do real que fazem cair a condição da perda da realidade. O esquizo é a transpassagem entre a denúncia revelatória do real do mundo e de um corpo sob a iminência de um colapso que não é interno à ele mesmo, mas atravessado pelo fora - ele está imerso na verdade por um sempre-mais de realidade. Prossegue-se por meio da reafirmação que as máquinas desejantes são esquizofrênicas, e para decompor tal afirmação, se faz uso de alguns fragmentos clínicos de Victor Tausk e seu aparelho de influenciar na psicose. Na descrição destes aparelhos e máquinas, articula-se e tensionam-se as noções de produção desejante e inconsciente maquínico em relação à representatividade do inconsciente freudiano e seu aparelho psíquico, culminando na concepção de um inconsciente esquizofrênico e sem sujeito. Por fim (que pode ser um começo), cria-se o conceito de corpo esquizo-pulsional, aproximando o corpo esquizofrênico ao corpo sem órgãos e a teoria das pulsões em Freud. Desterritorializa-se a finalidade desenvolvimentista da pulsão, sustentando seu caráter parcial, não-integrativo e sua condição perversa-polimorfa como aquisições sobre aquilo que se pode um corpo.