A OBSCURA NOÇÃO DE SUBSTÂNCIA EM JOHN LOCKE
Do ponto de vista histórico é comum observarmos uma tendência à redução do período da modernidade, mais especificamente àquele que compreende o século XVII, à dicotomia entre Racionalismo e Empirismo. Todavia tal divisão se arrisca a empobrecer as grandes discussões do período e suas importantes contribuições para a investigação científico-filosófica. John Locke (1632-1704), reconhecido como um dos maiores expoentes da corrente britânica, em consonância com o programa científico do período, pretendia examinar a natureza, os fundamentos e os limites do conhecimento, a fim de obter resultados úteis e práticos para a vida humana. Entretanto, a obra de Locke e a importância de suas contribuições para a epistemologia são, frequentemente, mal compreendidas. A presente pesquisa pretende analisar a noção de substância a partir de uma das principais obras do filósofo britânico, o Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689). No Ensaio ficam evidentes os perigos do dogmatismo e da superstição para o conhecimento verdadeiro dos fenômenos da natureza. Nota-se uma nítida obscuridade na ideia de substância, que, apesar de admitir elementos céticos na sua teoria empirista das ideias, demonstra não ser possível descartá-la por completo. Examinar essa tensão e alguns de seus desdobramentos epistêmicos é o nosso objetivo central.