Da noção de facticidade a Ser e tempo: a formação do "ser-no-mundo" a partir de um novo horizonte ontológico
Na pesquisa aqui proposta, almejamos estudar como é realizada a transição do conceito de facticidade, trabalhado na filosofia de juventudede Martin Heidegger, para o conceito de ser-no-mundo, que se apresentaria como peça central na ontologia fenomenológica de Ser e Tempo. Com base nas preleções anteriores a 1927, que se debruçam sobre o problema da facticidade, pretendemos mostrar como o conceito de ser-no-mundo se constitui gradativamente a partir de um desdobramento da facticidade. Já nos anos 1910, aliás, Heidegger tinha no "dilema fático"uma de suas principais preocupações teóricas, o que, em nosso entender, acabaria por conduzi-lo a se propor, na preleção Interpretações Fenomenológicas sobre Aristóteles: Introdução à pesquisa fenomenológica, de 1922,a tarefa de realizar uma ontologia fenomenológica hermenêutica em que já o próprio ser aparece como principal questão. No ano seguinte, por seu turno – em Hermenêutica da Facticidade (Ontologia), de 1923 –, essa tarefa é aprofundada e o novo termo, "ser-no-mundo", aparece pela primeira vez como forma de designar o ser-aí fático.Nosso intuito, portanto, é compreender de que maneira esse novohorizonte ontológico, surgido com força no começo dos anos 1920 a partir da facticidade, passa a balizar o pensamento heideggeriano e confere uma centralidade cada vez maior ao conceito de ser-no-mundo, cuja elaboração sistemática se dará de fato, como é sabido, na obra Ser e Tempo.