PENSANDO A ÉTICA A PARTIR DE HEIDEGGER: A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO NAS RELAÇÕES HUMANAS
A nossa tese tem como objetivo inicial mostrar que é possível ler a obra de
Heidegger, notadamente Ser e tempo, na chave de uma ética originária, que aqui
preferimos chamar de ética do cuidado, ainda que tal ética não esteja declarada de
maneira evidente, clássica, em seus textos. Apesar das controvérsias políticas
presentes ao longo de sua vida, entendemos que é possível lermos uma ética
presente no projeto heideggeriano, sendo ela uma questão permanente no
pensamento de Heidegger. Para isso, faz-se necessário uma “desconstrução” dos
modelos éticos chamados de infinitistas, fundamentados pela tradição em cânones
e leis. Somente após tal desconstrução, podemos falar em uma ética originária, cuja
raiz está fincada na imanência do acontecer no mundo. O itinerário para se chegar a
essa ética originária se dá por meio da experiência da angústia, como aquela que
possibilita o cuidado originário. Angústia é o caminho que permite ao Ser-aí
ressignificar a sua existência, assumindo-se, reconhecendo-se como ser-próprio,
autêntico. Dialogando com a nossa leitura de uma ética do cuidado no projeto de
Heidegger, apresentamos a ideia de empatia, segundo Edith Stein, como parâmetro
para ressignificar as relações, na intenção de “construir” um agir ético que seja
campo para relações marcadas pelo cuidado originário. Para esse diálogo também
trouxemos o filósofo e teólogo Leonardo Boff, considerando a sua perspectiva ética
apresentada no livro Saber cuidar: ética do humano, refletindo sobre a dimensão
integral e orgânica do cuidado. À luz dessa perspectiva, gostaríamos de encerrar
nosso percurso com uma reflexão sobre as ações desenvolvidas pelo Padre Júlio
Lancellotti junto à Pastoral do Povo de Rua, na cidade de São Paulo.