CORPO, VIDA NUA E SOBREVIVÊNCIA A PARTIR DE GIORGIO AGAMBEN
A presente dissertação investiga como a vida nua se reinsere na contemporaneidade e como contribui para a análise das relações de cálculo e sobrevivência dos corpos. Utilizando a travessia ferroviária de milhões de trabalhadores que se deslocam cotidianamente entre a periferia e o centro da cidade de São Paulo, a pesquisa revisa o conceito de vida nua em Giorgio Agamben, especialmente no interior de seu projeto filosófico Homo Sacer, relacionando-o ao que o autor designa como paradigma biopolítico contemporâneo, isto é, aos campos de concentração e ao estado de exceção permanente, que se alastra pelas sociedades complexas do início deste século XXI. A hipótese é de que, se o corpo-máquina é produzido no contexto anátomo-político disciplinar e o corpo-espécie no contexto biopolítico, logo um novo tipo de corpo é requerido no contexto em que ambas as tecnologias se entrecruzam. Com efeito, nessa zona de indiferenciação em que as técnicas de individualização e os procedimentos totalizantes se tocam, emerge o corpo sobrevivo, como categoria política mais adequada para apreender as formas com que as vidas nuas são desigualmente expostas à extração de vitalidade e, consequentemente, ligadas à estrutura de reprodução da própria exceção. Em outras palavras, o processo de centralização da vida nua nos cálculos do poder se incumbe de fazer sobreviver um corpo em prontidão, que se põe à serviço do paradigma que o governa, internalizando assim as disciplinas, autodisciplinas, as tecnologias biopolíticas e de controle. Coagido por dentro e por fora, esse corpo é alocado por critérios racistas em verdadeiras zonas infernais de guerra que possibilitam uma maior extração de suas forças, fechando, assim, o horizonte da experiência.