A Categoria de Libertação em Karl Marx
A tese trata da categoria libertação (Befreiung) nas obras de Karl Marx, publicadas em alemão, nos 44 volumes da MEW – Karl Marx, Friedrich Engels, Werke (Berlim: Dietz Verlag). Investigando todas as ocorrências do radical composto befrei no conjunto da obra, a pesquisa identificou a relação recorrente do termo libertação com outros em particular, gerou a partir deles o mapeamento lógico das categorias primárias e secundárias relacionadas à libertação, sistematizou os conteúdos das passagens principais e conectou-os entre si, explicitando diferentes extensões e compreensões dessa categoria em seu emprego por Marx no conjunto de sua obra. A pesquisa mostrou que essa categoria é central na trajetória da elaboração do autor e que a sua articulação recorrente e consistente com outras categorias primárias e secundárias confere unidade e coerência ao seu pensamento ao tratar da libertação em áreas diversas sob distintos aspectos; a pesquisa possibilitou especialmente conectar organicamente o conjunto dessas elaborações por suas próprias interfaces analíticas e estratégicas. Posto que toda libertação requer os meios de sua realização, cuja produção está socialmente mediada, tem-se por consequência a impossibilidade da autolibertação dos indivíduos isoladamente; por outra parte, dado o caráter contraditório das sociedades de classe, é igualmente impossível a libertação de todos os seres humanos em conjunto, de uma só vez. Para o autor, a supressão da privação dos meios necessários à realização das liberdades de todos e de cada qual é efetivada, progressivamente, com a livre associação comunal dos trabalhadores que, apropriando-se das forças produtivas, libertam o seu potencial na criação abundante de meios de produção e de consumo para o atendimento das necessidades das comunidades humanas, contando com as capacidades de cada qual em proveito do livre desenvolvimento das individualidades de todos. Em sua abordagem, o mesmo movimento intrínseco de expropriação capitalista, gerador de monopólios, segue operando nessa última fase, em que a produção cooperativada, libertando o potencial das forças produtivas, avança progressivamente na expropriação dos expropriadores, atendendo a volumes crescentes de demandas sociais com a reprodução ampliada do valor econômico. Ocorre assim a libertação do valor, do trabalho e da indústria, em movimento histórico similar ao do fenecimento do sistema feudal e ao surgimento do capitalismo, porém agora na transição do sistema capitalista ao sistema comunal, mediado pelo socialismo como fase intermédia. Nesse movimento tem-se, progressivamente, a abolição do mercado e do Estado, por serem mediadores da alienação econômica e política das comunidades humanas; e, em seu lugar, firma-se o poder público (öffentliche Gewalt) não-estatal, assentado no poder econômico e social dessas comunidades (Gemeinwesen), onde se realiza efetivamente a universalidade da natureza humana comunal. Desse modo, a libertação das forças produtivas, com o desenvolvimento científico e tecnológico aplicado à economia, não somente avança na libertação do tempo humano de trabalho, isto é, na expansão do tempo livre (freie Zeit) para todos, como consolida as bases materiais para a realização das liberdades individuais e públicas, asseguradas por novas formações sociais de natureza democrática, organizadas livremente, que superam a contradição entre as classes sociais e conduzem à abolição destas.