HEGEL RACISTA? APRESENTAÇÃO DE UM DEBATE
O presente trabalho articula parte das interpretações sistematizadas por trabalhos anteriores sobre o tratamento dado por G.W.F Hegel à questão das diferenças entre as raças humanas, com o objetivo de dar a conhecer, a partir dos comentários baseados nas obras publicadas e nos manuscritos de aulas, evidências textuais e contextuais que subsidiem um engajamento crítico com o tratamento dispensado à categoria raça dentro do sistema hegeliano. A pesquisa explora, a partir de fontes secundárias, como se deu a interlocução de G.W.F Hegel com outros pensadores de sua época sobre a questão racial, como o filósofo manejou as informações disponíveis sobre os povos não-europeus, de que forma tratou a questão em diferentes textos e momentos de sua vida, se e em que medida suas principais teses estão comprometidas com o racismo se e quais as possibilidades e impossibilidades de apropriação positiva de sua obra. Em especial, a pesquisa destaca, por um lado, a distinção entre natureza e espírito como ponto chave para compreensão da explicação de Hegel sobre as diferenças entre as raças humanas, os limites do universalismo hegeliano, o eurocentrismo de sua compreensão de história e a necessidade da exclusão da África para a construção da ideia da Europa moderna. Por outro lado, ressalta a importância da cautela na associação de Hegel como causa filosófica de todas as mazelas do racismo, a especificidade de seu etnocentrismo centrado na cultura germânica, a possível parcialidade das anotações de aula como fontes acesso a seu pensamento e a miséria da antropologia empírica de seu tempo. O diálogo em torno de intepretações antagônicas mostrou a complexidade do tema e levantou questionamentos sobre as promessas de uma sociedade pós-racial e a persistência do conceito de humanidade legado por Hegel, cuja influência na modernidade ocidental é largamente documentada pela literatura.