Paulo Freire e a diretividade: uma análise das obras de 1959 a 1968
Pretende-se, neste estudo, analisar o trajeto teórico de Paulo Freire em suas obras de 1959 a 1968, com ênfase nas discussões em torno da "diretividade" ou "não-diretividade" do processo educativo. O autor, nos anos de 1990, definiu que toda prática educativa, seja autoritária ou democrática, possui um elemento de direção por parte do educador. Quando, porém, essa diretividade passa a restringir a competência criativa, formuladora e questionadora do educando, ela se transforma em manipulação e autoritarismo. No entanto, o percurso que o levou a este entendimento apresenta reflexões que são fundamentadas, não só em diferentes fontes teóricas, mas em uma práxis, que o induziu a formulações e reformulações permanentes. Se em Educação e Atualidade Brasileira (1959), influenciado pelo nacionalismo-desenvolvimentista formulado pelo Instituto Superior de Estudos Brasileiros, Freire apresenta uma tese irrefletidamente diretiva, em Educação Como Prática da Liberdade (1965), sob influência do personalismo, da filosofia existencialista e de grupos católicos influenciados por ideais não-diretivos, passa a problematizar a diretividade. Esta problematização se aprofunda em Pedagogia do Oprimido (1968), porém, com contornos originais dentro de um novo quadro teórico (marxista). A questão, então, se volta para o problema da “propaganda libertadora” promovida por lideranças revolucionárias que “depositam” a crença da liberdade nos oprimidos, isto é, lançam mão de técnicas domesticadoras visando a libertação. Por fim, visto que a diretividade, assim como sua relação com a figura de Paulo Freire, foi recentemente tema de debates públicos no cenário brasileiro, pretende-se, em apêndice, fazer uma análise deste debate no âmbito institucional.