A Psicopatologia preta de Frantz Fanon e suas implicações éticas e políticas
A presente pesquisa realiza uma reflexão sobre a psicopatologia preta de Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo martinicano inserido no contexto de guerra e revoluções da primeira metade do século XX, que propôs uma maneira transformadora de se olhar para o sofrimento psicológico do negro. A partir dos principais textos de Fanon, este estudo busca compreender o significado, o surgimento e as consequências da doença psicológica exposta por ele. Realizar esse trabalho significa, entre outras coisas, investigar em tais textos a compreensão das influências filosóficas e psicanalíticas no pensamento de Frantz Fanon; em especial, o entendimento da visão ética baseada na dialética entre o Eu e Outro. No caso da psicopatologia preta, trata-se de uma releitura lacaniana da teoria da alienação de Hegel e Marx sob o ponto de vista do colonialismo. Nesta perspectiva, a dialética passa a compreender a ideia de sofrimento do negro sob diversos aspectos na relação do Eu e do Outro mediado pela relação racializada do colonialismo. Em especial, destacamos: a “negrofobia” (o lugar do corpo negro como o Outro a temer); a apreensão do significado de alienação no conceito de epidermização (o lugar da pele negra no jogo de máscaras da colonialidade); a compreensão da interferência da doença psicológica do negro no seu reconhecimento e na sua vida ética; a apreensão da maneira como a psicopatologia preta atua dentro de um contexto de colonialismo; e o entendimento das hipóteses fanonianas para a superação do adoecimento psicológico do preto: a construção de um ser universal e a autodeterminação. Sendo assim, a pesquisa analisa essencialmente textos do autor dedicados ao sofrimento psicológico do negro. Também são consultados pensadores que o influenciarame autores que se dedicaram à análise de sua obra. Compreendemos que, do conjunto de análises que herdamos da releitura de Fanon sobre a dialética materialista e a psicanálise, a psicopatologia preta torna-se um eixo fundamental para um debate ético-político contemporâneo, marcado pela seguinte questão: em que medida a invisibilidade do negro influencia na formação ética e política da sociedade na qual está inserido?