A OBSCURA NOÇÃO DE SUBSTÂNCIA EM JOHN LOCKE
A importância das contribuições de John Locke (1632-1704) para a epistemologia, embora amplamente reconhecidas, podem ser frequentemente mal compreendidas, de modo particular a sua noção de substância, a partir da interlocução com uma teoria dos corpos materiais fundada sobre a égide da filosofia experimental seiscentista. A inversão lógica da investigação do conhecimento, dos efeitos para as causas, bastante alinhada ao método científico que Locke perseguia, coloca as propriedades dos corpos em evidência, em detrimento de sua natureza substancial, que não pode ser conhecida pelas nossas faculdades limitadas. Estabelece-se, assim, a importante e fundamental distinção epistemológica entre o Ser e a Ideia de substância, que nos coloca diante da tensão disruptiva da modernidade, cuja herança viria ser a eliminação, ou preterição, cada vez mais acelerada do conceito tradicional de substância. O objetivo desta pesquisa é investigar como se constituiu esse caminho, dentro do projeto lockeano, que levou à inversão lógica do conhecimento da realidade das coisas, das qualidades para a sua constituição interna, como uma resposta mais adequada do que a problemática substância da tradição.