CETICISMO E SIGNIFICADO

Ensaio de uma resposta carnapiana ao paradoxo semântico exposto por Kripke

Na leitura que Saul Kripke faz das Investigações filosóficas de Ludwig Wittgenstein se encontra um intrigante problema filosófico. Por essa leitura, que é exposta em Wittgenstein on rules and private language, Kripke apresentou um tipo muito particular de ceticismo, que ficou conhecido como ceticismo semântico. Não obstante a estranheza causada por Kripke ter lido Wittgenstein como um cético, a sua interpretação ganhou vida própria e se tornou um incômodo problema, pois, se o ceticismo semântico for verdadeiro, não há teoria do significado alguma que possa ser verdadeira. O pressuposto básico das teorias do significado clássicas – que significados são dados pelas suas condições de verdade e referência a fatos – resulta em paradoxo: simplesmente, não existem fatos pelos quais significados são determinados. Contudo, se esses fatos não existem, somos forçados a concluir que a linguagem não é significativa porque não haveria como saber que tal e tal expressão possui tal e tal significado. Com efeito, há dois tipos de respostas possíveis de serem lançadas contra esse paradoxo: por meio de uma solução direta, pela qual se demonstra a existência dos fatos que refutariam a argumentação cética, e via uma solução cética, que aceita os termos colocados e reconhece a impossibilidade de solucionar diretamente o paradoxo, mas oferece uma nova maneira de compreender significados que não faça referência a fatos. Para Kripke, todas as tentativas de solução direta falham. O problema desta pesquisa, portanto, é discutir a possibilidade de objetar o ceticismo semântico dentro de um quadro teórico factualista. Para tanto, será oferecida uma possível solução deflacionária como consequência de uma reavaliação do questionamento cético. Tais esforços serão ancorados sobre dois parâmetros referencias: reinterpretar o ceticismo semântico como um questionamento ao mesmo tempo semântico e ontológico, para que se possa deflacionar o problema e demonstrar a incorreção metaontológica e mesmo semântica da questão colocada pelo paradoxo. As bases teóricas sobre as quais essa solução deflacionária será construída se encontram nas teorias que Carnap desenvolve principalmente em dois trabalhos: Empiricism, semantics, and ontology, trabalho no qual se encontra uma teoria metaontológica que propõe delimitar as questões ontológicas que são legítimas; e Meaning and necessity, obra em que se encontra uma teoria do significado factualista fundada numa concepção deflacionária de ‘fato’.