Da performatividade à melancolia: narrativas de resistência e ação em Judith Butler
Em Problemas de Gênero, Judith Butler parte de uma análise do poder de matriz foucaultiana para problematizar a centralidade concedida à categoria “mulheres” dentro da política representativa feminista. Para sustentar essa posição, ela realiza uma genealogia dessa categoria, retomando os discursos de poder que estruturaram a concepção de identidade como pré-requisito metodológico e normativo da política. Ao fazer isso, a autora rejeita a distinção sexo/gênero, mostrando como o “sexo” é também uma categoria culturalmente construída, e reformula a concepção de gênero como performativa, em defesa de uma política subversiva imanente de ressignificação das normas hegemônicas de gênero. Esta posição rendeu inúmeras críticas e interpretações diversas sobre as (im)possibilidades de resistência e ação em sua teoria. Após três anos da publicação de seu livro, Butler lança Corpos que importam, no qual resgata a teoria do ato de fala de Derrida para reavaliar a performatividade como citacionalidade/iterabilidade, esclarecendo o caráter nem determinista, nem voluntarista de sua obra, que repensa o conceito de agência independente da ficção de um sujeito pré-existente. No entanto, é somente em 1997, com o livro A Vida Psíquica do Poder, que Butler retoma a discussão sobre o paradoxo da agência. Neste livro, a filósofa aprofunda sua explicação através da psicanálise e, principalmente, do processo da melancolia, para mostrar como as normas sociais são incorporadas e ressignificadas psiquicamente. Em um movimento que vai da performatividade à melancólica, passando pela citacionalidade, esta dissertação empreende uma reconstrução que retoma e analisa os caminhos e conflitos teóricos pelos quais a teoria da performatividade de Butler passou ao longo dos anos de 1990, buscando esclarecer e aprofundar sua compreensão sobre as narrativas de resistência e ação de uma política performativa subversiva.