A INSTABILIDADE DAS CATEGORIAS NA ANÁLISE FEMINISTA:
reformulando gênero e identidade a partir de Judith Butler e Iris Young
Em Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade, Judith Butler critica a forma como o feminismo tradicionalmente manteve um injustificado binarismo entre feminino e masculino, a partir da conhecida dicotomia entre gênero e sexo. Ao realizar uma desconstrução dessas categorias, mostrando como o conteúdo do gênero e do sexo são construídos e contingentes, Butler também esvazia o sujeito político feminista conhecido como “mulher”. Dada a heterogeneidade do conteúdo que constitui a categoria “mulher”, Butler retoma as denúncias de exclusão e silenciamentos de mulheres dentro do feminismo, para mostrar que, categorias que expressam identidades não podem ser explicadas como resultado de uma essência compartilhada entre membros de determinado grupo ou características comuns a todos eles. Alguns críticos, como Iris Young, consideraram essa negação do sujeito político do feminismo como um risco que poderia minar o seu potencial político. Oferecendo uma resposta diferente ao dilema da exclusão, Young incorpora a crítica de Butler às identidades, sem com isso aderir sua proposta política. Entendendo que a categoria de “gênero” não é dispensável para o feminismo ao teorizar as estruturas sociais e não a subjetividade, Young visa combinar um quadro teórico desconstrutivo com um modelo de representação de grupos sociais, trabalhando a noção de “serialidade” originalmente cunhada por Sartre. Seu objetivo é dar conta de uma descrição coletiva das mulheres, sem naturalizar e reificar a categoria. Nessa dissertação, nosso objetivo é reconstruir esse debate, analisando as propostas avançadas pelas duas autoras.