Conceitos e relatos de professores da Educação Básica sobre orientação sexual e identidade de gênero
A escola, um espaço de socialização por excelência, serve de palco para a construção identitária daquelas que a frequentam e opera de forma pretensa e despretensiosa na instauração e reprodução de formas de se interpretar e interagir com o mundo e as experiências vivenciadas nele. Como importantes agentes nestes processos, as professoras devem atuar sempre de maneira crítica às suas práticas a fim de evitar e romper estigmas sociais estando constantemente atentas as raízes histórico-culturais dos mesmos para que não os perpetuem e possam romper com hierarquizações humanas sufocantes, vantajosas a uma elite hegemônica que se apoia na inferiorização de outros corpos, em especial mulheres e LGBTs. Tendo em vista as mudanças no contexto de políticas educacionais causadas pela aprovação da BNCC visamos melhor compreender o cenário de formação de professoras e o cotidiano escolar, bem como alguns dos conceitos de 14 professoras colaboradoras sobre diversidade sexual e de gênero fazendo um paralelo com políticas educacionais, sua formação inicial e continuada e suas práticas escolares. Para tal realizamos uma pesquisa qualitativa com questionário aberto em meio virtual cujas respostas foram analisadas seguindo uma linha interpretativista considerando sempre os conceitos de posicionamento parcial e conhecimento posicionado como ilustrados por Haraway. Dividimos nossos resultados e discussões em três grandes blocos ‘Steven e os Stevens’, uma caracterização de nossas colaboradoras, ‘Livro aberto’, onde exploramos a formção e concepções das colaboradoras e ‘Diário de bordo 7-15-2’ onde discutimos algumas das situações e práticas vivênciadas por estas professoras. Os resultados apontam que, apesar de ser um grupo de professoras formadas recentemente - metade tem menos de cinco anos de formadas -, poucas discutiram questões relacionadas à sexualidade e gênero em sua formação, indicando que as discussões sobre o tema ocorrem somente com a conscientização das professoras e/ou seu interesse, e ainda, que metade das professoras reconhecem que o tema não tem idade para ser debatido, enquanto que algumas apontam para que o debate só ocorra no Ensino Médio e/ou Ensino Fundamental, o que serve como um possível indicador de que as professoras consideram a existência de uma maturação para tal debate. As conclusões indicam que os cursos de formação de professoras devem atentar para que o debate não se resuma às questões sexuais e reprodutivas, ampliando para questões históricas e culturais.