Conhecimento do professor que ensina geometria: o "knowledge quartet" como ferramenta de análise
O presente estudo tem como tema o conhecimento do professor que ensina matemática.
O objetivo centra-se em investigar os conhecimentos mobilizados por professores que ensinam matemática em relação aos processos de planejar e desenvolver tarefas de conceitos geométricos nos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano). Para isso, foram utilizados, referenciais teóricos que abordam o conhecimento profissional do professor que ensina matemática, com destaque para os estudos de Tim Rownland e seus colaboradores sobre o Knowledge Quartet. Esse configura-se como um conjunto de conhecimentos que busca proporcionar uma reflexão tanto do ensino como do conhecimento mobilizado do professor por meio de quatro dimensões: fundamento, conexão, transformação e contingência. A pesquisa foi de natureza qualitativa e teve como colaboradoras duas professoras de matemática dos Anos Finais do Ensino Fundamental, convidadas a participar de um grupo com características colaborativas, estabelecendo o contexto de produção de dados. Os dados foram produzidos tendo como base: (1) o planejamento de tarefas sobre conceitos geométricos; (2) o desenvolvimento das tarefas em sala de aula; e (3) a reflexão e análise de episódios de aula das professoras colaboradoras. Estes três momentos foram gravados em áudio e vídeo para posterior transcrição e análise. Como resultados da pesquisa foram evidenciados os conhecimentos mobilizados pelas professoras, destacando a dimensão fundamento no planejamento e a dimensão contingência no desenvolvimento das tarefas em sala de aula. Na etapa inicial do planejamento, em que as professoras decidiam o que fazer em cada tarefa, os conhecimentos se relacionavam com a definição de propósitos e a identificação de erros. Após definido o que seria feito, as professoras mobilizaram conhecimentos sobre os procedimentos, a terminologia, o uso de livros didáticos e das tecnologias digitais. Assim, identificou-se que os conhecimentos mobilizados no planejamento foram voltados para o conhecimento do conteúdo e da pedagogia. No desenvolvimento das tarefas com os estudantes, foram mobilizados conhecimentos relacionados a todas os códigos da dimensão contingência, provocando um desvio na agenda planejada. A (in)disponibilidade de recursos ocasionou insights nas professoras participantes. Além disso, os estudantes também foram responsáveis pelos momentos contingentes, seja por uma ideia ou por uma dificuldade inesperada. Por fim, entende-se a sala de aula como um ambiente imprevisível, em que todas as dimensões foram mobilizadas ainda que contingência tenha se destacado. A colaboração permitiu que as professoras participantes também fossem responsáveis pela própria formação, que foi realizada para, com e na escola, desenvolvendo conhecimentos profissionais docente na teoria e na prática.