Tensões entre políticas curriculares: a recepção à Base Nacional Comum Curricular por professores e professoras de Química
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada em 2018, é o documento que pautará os currículos oficiais do país pelos próximos anos. Os processos de elaboração e aprovação da BNCC foram marcados por debates acirrados, com atores contrários e favoráveis à existência de um currículo nacional e obrigatório. Em meio a tais discussões, o professorado da educação básica, que terá sua prática diretamente impactada pela nova política curricular, tiveram em uma consulta pública online realizada em 2015 o único momento de se colocarem neste debate. A realização da consulta pública gerou um grande volume de dados, com contribuições de milhares de docentes da educação básica, que puderam expor suas opiniões acerca do currículo escolar. Focalizando o componente curricular Química, investigamos, a partir dos dados da consulta pública, de que forma as políticas curriculares anteriores influenciam a recepção dos(as) docentes à nova proposta curricular. Utilizando ferramentas de text mining no corpus das contribuições escritas à consulta pública da BNCC, foram identificadas críticas direcionadas tanto ao conteúdo como à organização da primeira versão do documento. As análises mostram que essas críticas guardam relações com as políticas curriculares anteriores à BNCC, como os currículos estaduais e o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que ao longo de décadas moldaram as representações docentes acerca do currículo e dos conteúdos escolares.