Estabilidade hidrolítica e propriedades anti-inflamatórias de uma betalaína derivada do ácido mefenâmico
A inflamação pode ser definida como uma resposta natural de defesa do organismo desencadeada por estímulos nocivos, como infecção por microrganismos ou lesão tecidual. Derivados de difenilamina, como diclofenaco e ácido mefenâmico, são utilizados como anti-inflamatórios não-esteróides devido à sua capacidade de impedir a biossíntese de prostaglandina via inibição da atividade das ciclooxigenases COX-1 e COX-2. Apesar de sua eficácia terapêutica, o uso desses medicamentos é limitado por seus efeitos colaterais, principalmente pela tendência em aumentar a ocorrência de úlceras gastroduodenais. Pesquisas têm sido realizadas com o intuito de encontrar novos agentes terapêuticos para uma variedade de doenças inflamatórias. Betalaínas são pigmentos não tóxicos encontrados em plantas e fungos que interferem na cascata de sinalização pró-inflamatória, principalmente na via do fator nuclear kappa B (NF-κB), que atua na transcrição de genes auxiliando a regulação da resposta inflamatória. Difenilbetalaínas são betalaínas não-naturais coloridas que apresentam maior estabilidade hidrolítica comparadas aos seus análogos monossubstituídos. Neste projeto de mestrado, foi proposta a semissíntese de uma betalaína derivada do acoplamento entre ácido betalâmico e o ácido mefenâmico, uma difenilamina comercial usada como agente anti-inflamatório não esteroide. O composto obtido, chamado de mefenilbetalina (mefBeet) terá a sua capacidade de inibir a ação de NF-κB e COXs determinada. A semissíntese foi realizada a partir de ácido betalâmico (HBt) e ácido mefenâmico em acetato de etila acidificado, um solvente orgânico benigno resultando em um sólido laranja que foi purificado e caracterizado por espectrometria de RMN e massas. A mefBeet é solúvel em água e sua hidrólise não depende do pH na faixa de 3 a 7. Problemas como baixa absorção e biodisponibilidade são muitas vezes encontrados em compostos com baixa solubilidade em água, como é o caso do ácido mefenâmico (~0,004 mg/mL em 37 °C). O fato da mefBeet ser solúvel em água sugere a necessidade de uma menor dosagem do composto para obtenção de sua concentração terapêutica, já que o mesmo seria melhor dissolvido nos líquidos do trato gastrointestinal. O máximo de absorção da mefBeet na água é 502 nm e a sua excitação nesse comprimento de onda produz emissão centrada em 567 nm (deslocamento de Stokes: 65 nm, 2284 cm– 1). Embora o rendimento quântico de fluorescência na solução seja baixo (ΦFL = 3,72 × 10–3), as betalaínas tendem a se tornar muito fluorescentes na presença de proteínas, podendo ter seu comportamento intracelular monitorado por microscopia de fluorescência, o que é outra vantagem em relação ao ácido mefenâmico, o qual não teve seu mecanismo de ação completamente elucidado até o momento. Os resultados deverão contribuir para o desenvolvimento de fármacos anti-inflamatórios de ação combinada obtidos a partir de produtos naturais.