Alcaloides com atividade antitripanossoma de Ocotea puberula (Rich.) Nees
O estudo de produtos naturais proporciona uma grande variedade de protótipos para o desenvolvimento de novos fármacos. Nesse contexto, o trabalho fitoquímico está associado a avaliação da atividade biológica buscando isolar e caracterizar metabólitos bioativos. Nesse trabalho, foi avaliado o potencial anti-T. cruzi do extrato metanólico das folhas de Ocotea puberula (Lauraceae), sendo observada atividade expressiva (100% de morte das formas tripomastigotas a 300 µM/mL). Dessa forma, o extrato metanólico foi submetido à fracionamento cromatográfico biomonitorado, culminando no isolamento de seis alcaloides aporfínicos: deidrodicentrina (1), dicentrina (2) e dicentrinona (3), predicentrina (4), N-metillaurotetanina (5) e cassiticina (6), sendo 1, 3 e 6 identificados pela primeira vez na espécie. As estruturas das substâncias foram definidas através de espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear. Os compostos 1 – 6 foram avaliados frente a formas tripomastigotas de Trypanosoma cruzi, sendo que o composto 3 mostrou-se mais ativo (CE50 de 16,8 µM), e atóxico à concentração testada (CC50 > 200 µM) e, portanto, um bom índice de seletividade (IS > 12). Os compostos 1, 2 e 4 apresentaram atividade moderada (CE50 28,4; 76,8 e 88,7 µM) e atoxicos (CC50 > 200 μM) exceto o composto 2 que apresentou elevada citotoxicidade (CC50 de 37,81 µM). Por outro lado, os compostos 5 e 6 mostraram-se inativos. Considerando a similaridade entre os compostos 1 - 4 pode-se aferir que a dupla ligação entre C-6a e C-7 é de grande importância para a atividade dos alcaloides, visto que a hidrogenação dessa ligação levou à redução da atividade frente aos parasitas e aumentou consideravelmente a citotoxicidade. Com base nos resultados obtidos, o composto 3 pode ser considerado um candidato para o desenvolvimento de futuros fármacos para o tratamento da Doença de Chagas.