Arsênio e arroz: ferramentas analíticas para o monitoramento e potenciais formas para (bio)remediação
O Arsênio (As) é o xenobiótico mais tóxico segundo a Agência para Registro de Substâncias Tóxicas e Doenças dos Estados Unidos. Dentre as espécies químicas presentes na natureza, as inorgânicas (As3+ e As5+) são as mais tóxicas ao homem. Por sua vez, as espécies metiladas (MMA – monometilarsênio, DMA – dimetilarsênio, e AsB - Arsenobetaína) são consideradas menos tóxicas. Quando presente no solo, o As é absorvido pelas raízes de algumas plantas, incluindo aquelas destinadas à alimentação humana. O arroz, Oryza Sativa L., integra o grupo de cereais que absorvem o arroz e, segundo alguns estudos, é capaz de absorver até dez vezes mais As que outros cereais como a cevada e o trigo. Após absorção do As pelas raízes, este elemento e suas espécies chegam até os grãos e acumulam-se. Sendo este cereal um importante alimento para brasileiros e para quase metade da população mundial, torna-se uma relevante via de exposição. A planta possui mecanismos que favorecem a absorção de As pelas suas raízes - principalmente As3+ - quando cultivado em solo tipo irrigado (inundado). Por outro lado, o arroz também possui mecanismos de defesa como as fitoquelatinas e efluxo do As absorvido. Sabe-se que os grãos de arroz consumido no Brasil possuem concentração média de As > 222 ug.kg-1 , sendo cerca de 60% encontrado como As inorgânico, o que pode representar um risco a saúde da população, quando comparado ao valor máximo permitido de 10 mg.l-1 de As em água. Os principais estados produtores são Rio Grande do Sul e Santa Catarina que utilizam o cultivo do tipo irrigado. Além disso, atualmente, há uma intensa discussão entre os participantes do Codex Alimentarius sobre os limites máximos de As no arroz, bem como métodos de especiação e código de práticas para mitigar essa contaminação. Portanto, nesta tese foram estudados métodos de especiação química e fracionamento, investigação de cultivares nacionais em relação à predileção e acúmulo de As, desenvolvimento de método para aprisionamento de As volátil para avaliação da volatilização de As utilizando fungos isolados da rizosfera de arrozes brasileiros como ferramenta para bio-remediação e, finalmente, estudos de mitigação através do polimento e cozimento dos grãos. Quanto aos resultados obtidos, observou-se grande heterogeneidade nas concentrações de As e suas espécies mesmo quando os grãos eram provenientes de mesma cidade, apontando para a possibilidade da elaboração de estudos mais aprofundados visando a rastreabilidade dos grãos. Em segundo lugar, observou-se volatilização significativa de As de solos, especialmente por cepas de fungos isolados de arrozais (Penicillium sp. e Aspergillus sp.). Em terceiro lugar, a lavagem dos grãos e sua forma de processamento mostraram influência na concentração final de As nos grãos, sendo que, quanto mais lavagens os grãos do cereal sofrem, menor a concentração de As presente nos grãos. Finalmente, a realização das etapas anteriores só foi possível após o desenvolvimento e validação parcial do método de especiação química de As por HPLC-ICP-MS. Após a obtenção de um método robusto e reprodutível, foram testadas formas de fracionamento por extração em fase sólida (SPE), o que mostrou, já nos testes preliminares ser uma alternativa demasiadamente onerosa e com custo relativamente alto, o que não justificaria a substituição da técnica de especiação já tão consagrada no meio acadêmico.