AVALIAÇÃO COMPARATIVA DA ATIVIDADE ANTITRIPANOSSOMA, ANTILEISHMANIA E ANTITUMORAL DO ALCALOIDE APORFÍNICO DICENTRINA OBTIDO DE Ocotea puberula (Rich. Nees) E DE DERIVADOS
A Doença de Chagas e a Leishmaniose Visceral são graves doenças tropicais negligenciadas, causadas, respectivamente, pelos protozoários Trypanosoma cruzi e Leishmania (L.) infantum. Juntas, acumulam 100 mil casos anuais, atingindo principalmente populações vulneráveis de países em desenvolvimento. Considerando a sua letalidade e os importantes problemas de toxicidade associados aos atuais tratamentos, é urgente a busca por novas substâncias ativas contra estas doenças. Com respeito ao câncer, sendo esta a segunda maior causa de morte no mundo, a prospecção de novos quimioterápicos é imprescindível. Especificamente, o câncer de cabeça e pescoço tem na quimioterapia uma de suas principais estratégias de tratamento, visando a cura e a preservação da funcionalidade dos órgãos acometidos. No contexto dessas problemáticas, e partindo da premissa de que os metabólitos especiais oriundos de plantas são fonte inesgotável de substâncias bioativas, o presente trabalho traz um estudo comparativo de atividades anti-T.cruzi , anti-L. (L.) infantum e antitumoral entre o alcaloide aporfínico (S)-dicentrina, obtido de O. puberula, e de três derivados: (S)-N-metildicentrina (1), (6aS, 6S)-dicentrina N-óxido (2) e (6aS, 6R)-dicentrina N-óxido (3), sendo este último um composto inédito. As aporfinas foram obtidas e caracterizadas por técnicas espectroscópicas e espectrométricas. O derivado N-oxidado (2) foi o mais ativo frente à forma amastigota de T. cruzi, (CE50 = 9,9 µM e IS > 20,2; benzonidazol: CE50 = 6,5 µM e IS > 30,7), indicando melhora na atividade e na seletividade do alcaloide de partida. Frente à forma amastigota de L. (L.) infantum, o N-óxido (3) foi o derivado mais ativo (CE50 = 34,5 µM; miltefosina = 10,2 µM; (S)-dicentrina = 10,3 µM), apresentando melhor IS do que seu precursor (IS > 5,8; (S)-dicentrina = 5). Frente às linhagens tumorais SCC-143 e SCC-154, associadas com o câncer de cabeça e pescoço, o composto de partida foi mais ativo (CI50 = 7,1 e 20,0 µM, respectivamente; cisplatina = 3,6 e 0,8 µM). Em geral, a N-oxidação mostrou ser uma funcionalização mais promissora que a N-metilação, gerando compostos mais ativos e menos tóxicos nos modelos biológicos estudados. Além disso, a estereoquímica destes derivados se apresentou como uma característica essencial para expressão de atividade.