AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTI-Trypanosoma cruzi DE CONSTITUINTES QUÍMICOS ISOLADOS DE Baccharis sphenophylla Dusén ex Malme (ASTERACEAE)
A Doença de Chagas, que tem como agente etiológico o protozoário Trypanosoma cruzi, é considerada a
mais negligenciada das doenças tropicais negligenciadas, dado o escasso arsenal terapêutico, ausência de
interesse econômico e de políticas públicas que visem sua erradicação. Estudos fitoquímicos envolvendo
extratos de plantas do gênero Baccharis levaram ao isolamento de compostos ativos frente às diferentes
formas morfogenéticas de T. cruzi. Dessa forma, o extrato hexânico de partes aéreas de Baccharis
sphenophylla Dusén ex Malme (Asteraceae) foi elencado para investigação fitoquímica biomonitorada. O
mesmo apresentou atividade contra as formas amastigotas de T. cruzi e foi submetido a sucessivas etapas
cromatográficas. Deste estudo, foram obtidos o composto ainda não relatado 7α-hidroxi-ent-abieta8(14),13(15)-dien-16,12β-olídeo (1), três diterpenos conhecidos – ácido ent-caur-16-en-19-óico, (2), ácido
grandiflórico (3) e ácido 15β-tiglinoiloxi-ent-kaur-16-en-19-óico (4), dois sesquiterpenos – espatulenol (5)
e oplopanona (6) – bem como o fenilpropanoide p-cumarato de hexacosila (7). Os compostos isolados
foram caracterizados por espectros de RMN e EM-AR e foram avaliados in vitro quanto à atividade contra
formas amastigotas e tripomastigotas do parasita. Além disso, a atividade dos compostos 1 – 7 contra
células NCTC também foi avaliada. Os compostos 1 e 7 mostraram eficácia frente a formas amastigotas do
parasita com concentração efetiva a 50% (CE50) nos valores de 21,3 e 16,9 μM, respectivamente. Ambos
os compostos também exibiram toxicidade reduzida contra células NCTC, apresentando valores de
concentração citotóxica a 50% (CC50) superior 200 μM, assim configurando valores de índice de
seletividade (IS) superiores a 9,4 e 11,9, respectivamente. Os compostos 2 e 4 mostraram eficácia frente a
formas tripomastigotas do parasita com CE50 nos valores de 10,6 e 2,4 μM, respectivamente. Enquanto o
composto 2 foi atóxico frente a células NCTC (CC50 > 200 μM), o composto 4 apresentou toxicidade
moderada com valor de CC50 correspondente a 83,5 μM. O que, dessa forma, configurou valores de IS
correspondentes a > 18,8 e 34,8 para os compostos 2 e 4, respectivamente. Dada a atividade observada para
os compostos 2 e 4 frente a formas tripomastigotas, os mesmos foram investigados quanto ao mecanismo
de ação de morte do parasita. Este estudo revelou que os compostos 2 e 4 agem por meio da desestabilização
de acidocalcissomas, organelas responsáveis pela regulação osmótica do parasita. Os resultados obtidos
foram revisados por pares e publicados nos artigos: Chemical Constituents from Aerial Parts of Baccharis
sphenophylla and Effects against Intracellular Forms of Trypanosoma cruzi
(https://doi.org/10.1002/cbdv.202100466) e Ent-kaurane diterpenes isolated from n-hexane extract of
Baccharis sphenophylla by bioactivity-guided fractionation target the acidocalcisomes in Trypanosoma
cruzi (https://doi.org/10.1016/j.phymed.2021.153748), sendo o primeiro escolhido para configurar capa do
fascículo 10, volume 18 da revista Chemistry & Biodiversity (https://doi.org/10.1002/cbdv.202100695).
Portanto, este trabalho sugere que os compostos 1, 2, 4 e 7 possam ser usados como protótipos para o
desenvolvimento de novos e seletivos derivados semissintéticos contra formas intracelulares e
extracelulares de T. cruzi, abrindo novos caminhos para o desenvolvimento de novos fármacos e terapias
alternativas para a Doença de Chagas.