A RELAÇÃO BRASIL E CHINA NA ERA DO NEOLIBERALISMO: O CASO DA SOJA
A tese teve como objetivo analisar a relação entre Brasil e China sob a perspectiva da terceira fase da dependência, concentrando-se no caso da soja. O período estudado abrangeu desde a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, em 2001, até 2023. A análise visou entender a dinâmica e os impactos das estratégias chinesas para a expansão da produção de soja no Brasil durante as safras de 2001 e 2023, utilizando a teoria da dependência em sua fase neoliberal, caracterizada por novíssima dependência e pela adoção de políticas econômicas neoliberais. Nesse período, a oferta de soja no Brasil cresceu e acompanhou a demanda chinesa, impulsionada pelo aumento da renda, pela urbanização e pelas estratégias de segurança alimentar da China, que enfrentava limitações em áreas agricultáveis, além de dispor de um grande contingente de mão de obra agrícola inadequado para a produção de soja. Paralelamente, o Brasil, sob políticas neoliberais e mudanças no marco regulatório (Lei Kandir), buscava facilitar a exportação de produtos primários e aumentar as divisas cambiais em dólares. A pesquisa também identificou fontes de capital investido ao longo de toda a cadeia produtiva da soja no Brasil, incluindo agricultores, terra, sementes, fertilizantes, máquinas agrícolas, agroquímicos, logística, comercialização e partes da infraestrutura. Por fim, foi feita uma analogia entre a novíssima dependência brasileira, iniciada no final da crise da dívida dos anos 1980, e as questões de segurança alimentar chinesa, as quais contribuíram para o aumento da produção de soja no Brasil. Conclui-se que, além das relações comerciais entre Brasil e China envolvendo a soja, existe uma estratégia chinesa de importar soja e produzir internamente produtos intensivos em mão de obra e com alta produtividade por metro quadrado. Contudo, o aprofundamento da dependência no Brasil não foi causado apenas por essa estratégia, mas também pelo fato de que o Brasil já estava inserido em um contexto neoliberal, buscando reativar seu superávit comercial em um ambiente econômico aberto, sem controles ou direcionamento de investimentos, diferentemente do Estado chinês.