DATAFICAÇÃO DAS CIDADES:O PAPEL DAS EMPRESAS PÚBLICAS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) NO PROCESSO DE GRILAGEM DIGITAL
O presente trabalho discute a crescente dependência das cidades contemporâneas das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e das plataformas digitais controladas por grandes corporações tecnológicas (Big Techs). Esse cenário configura o avanço do capitalismo de plataforma, no qual o espaço urbano é transformado em fonte contínua de extração de dados — processo conhecido como dataficação.
Inserido em uma lógica neoliberal, o Estado passa a atuar como consumidor de soluções privadas, reduzindo sua capacidade de desenvolver inovações próprias e fragilizando seu papel regulador, especialmente no que se refere à proteção de dados. A implementação de modelos de “smart cities” é analisada criticamente, sendo compreendida não como solução neutra e universal, mas como estratégia de mercado orientada pela eficiência, controle e vigilância, reforçando desigualdades territoriais e interesses de setores específicos, como o mercado imobiliário.
A literatura sobre o tema é agrupada em três abordagens: tecnocrática (voltada à eficiência da gestão urbana), sociotécnica (que analisa os impactos socioespaciais da dataficação) e regulatória (que busca discutir os mecanismos de controle sobre o uso e extração de dados). O trabalho ressalta a urgência de uma visão política crítica e regulatória frente à rápida expansão das tecnologias digitais nas cidades, sob pena de se acentuar um novo tipo de colonialismo digital.