TRANSIÇÕES SUSTENTÁVEIS NOS SISTEMAS ALIMENTARES - narrativas, campos de ação estratégica e comunidades epistêmicas
Ao longo das últimas décadas cresceram as evidências produzidas no campo científico que atestam uma série de problemas causado pelos sistemas alimentares: eles são um vetor impulsionador das mudanças climáticas globais, de processos de exclusão social nos territórios rurais e de disseminação de doenças que impactam na saúde humana e animal. Em resposta a esses problemas algumas transformações têm emergido no âmbito do consumo, com a ascensão de dietas mais conscientes; no âmbito das inovações tecnológicas, com a criação de tecnologias de intensificação produtiva e produção de proteínas alternativas; e no âmbito da organização dos mercados, com o encurtamento das cadeias produtivas e a proliferação dos chamados nichos de produção sustentável. Nesse cenário, ainda se discute como fazer com que esse conjunto de transformações possam ser combinadas e aceleradas de forma a viabilizar um horizonte mais sustentável e inclusivo. Diversos atores, organizações e comunidades epistêmicas – rede de especialistas e atores sociais que formulam narrativas para o enfrentamento os desafios climáticos e influenciam na construção das políticas – têm chamado a atenção para o fato de que, para atingir esse objetivo, seria necessário estabelecer abordagens sistêmicas do problema, capazes de operar com a multidimensionalidade que caracteriza o tema agroalimentar, e que possam resultar em quadros institucionais e instrumentos de políticas públicas mais integrados e menos fragmentados. Os meios pelos quais esse processo deve ocorrer, no entanto, ainda é objeto de controvérsias. A hipótese apresentada nesta tese para explicar isso é que, apesar da propagação da retórica sistêmica, ainda prevalece nos atores, práticas, estratégias políticas e conteúdos informados por enfoques particularizados. As narrativas elaboradas pelas comunidades epistêmicas para influenciar os campos normativo e político não conseguem mobilizar as forças sociais e nem os ativos necessários para operar com o conjunto de interdependências contidas no enfoque sistêmico do problema das transições.