Comuns urbanos e a territorialização do cuidado na Horta Comunitária Gera Juncal
Comuns referem-se tanto a tragédias – questões de escassez, insustentabilidade e acesso desigual a recursos que sustentam a vida, das crises democráticas e apagamento de formas de viver, saber e ser – quanto são articulados em visões de mundo de abundância, suficiência, justiça, emancipação, soberania, mutualidade, e legitimação do diverso. Jardins comunitários urbanos já foram teorizados como comuns nas cidades, mas o caráter co-constitutivo de natureza e sociedade é pouco observado. Este trabalho busca responder a chamados para urbanizar os comuns, não apenas pensando nos dilemas de comuns tendo como contexto o urbano, mas entendendo como os processos de urbanização estão entrelaçados nestes dilemas, e de investigar o papel das emoções, dos corpos, práticas cotidianas e das relações nos conflitos ambientais e negociações políticas. Busca ainda estender para as experiências do Sul Global o locus da teorização e reflexão crítica sobre práticas de planejamento e construção de imaginários. Entendendo cuidado como o esforço contínuo e partilhado de reparação do mundo para dar suporte à vida, e de reparação das relações na gestão de necessidades e capacidades, o objetivo desta pesquisa é entender como se territorializam o cuidado na horta comunitária Gera Juncal. Busca-se compreender como é feita a gestão de necessidades e capacidades dentro da rede, a partir de conflitos materiais e discursivos. Questiona-se como estas relações de cuidado se manifestam nas formas de apropriação do território, nas relações de poder e da definição de fluxos e mobilidades. Esta é uma pesquisa qualitativa, de estudo de caso. O caso escolhido é a horta Gera Juncal, localizada no Jardim Iguatemi, distrito de São Mateus, zona leste de São Paulo. A horta é uma iniciativa coletiva e comunitária inserida em uma mobilização popular por moradia. Emprega-se uma abordagem relacional – que observa as relações mais-que-humanas na produção de territorialidades – e técnicas de observação participante, anotações de campo, entrevista semi-estruturada e análise de documentos. A partir da aplicação de Estudo Piloto entre fevereiro e julho de 2023 pôde ser descrita a trajetória e o contexto da criação e manutenção da horta desde outubro de 2021. Foram identificados temas emergentes relacionados às práticas cotidianas, estratégias e táticas, identidades e relações, percepções e significados e processos. Este primeiro esforço de sistematização embasa o plano de continuidade da pesquisa aqui apresentado.