Ontologia e Linguagem em Berkeley
Esta dissertação investiga o estatuto ontológico de espíritos e ideias no
sistema metafísico de George Berkeley, explorando como a sua teoria da linguagem
pode esclarecer pontos fundamentais de sua ontologia. Berkeley sustenta que os
espíritos são substâncias ativas, enquanto as ideias são seres dependentes e
inertes; contudo, a distinção radical entre as duas categorias gera desafios
interpretativos. O trabalho analisa quatro perspectivas principais — a interpretação
adverbial (Pitcher), a conciliadora (Beardsley), a das ideias como objetos (Winkler) e
a dualista (Bettcher) — apontando suas limitações. Propõe-se, então, uma
interpretação linguística, baseada no Alciphron, que entende a designação de
"existência" para espíritos e ideias como algo que opera em contextos distintos:
enquanto espíritos existem "verdadeira e realmente", ideias "existem" apenas
enquanto percepções em um jogo de linguagem prático. Argumentamos que tal
abordagem contorna diversas dificuldades e assegura a coerência interna do
imaterialismo berkeleyano, alinhando-se a uma teoria do uso da linguagem
precursora de Wittgenstein. Conclui-se que a ontologia de Berkeley pode ser lida à
luz de sua filosofia da linguagem, onde termos como "ser" e "coisa" adquirem
significado em diferentes âmbitos operativos.