Historiografias neuróticas? Um estudo sobre a presença da teoria psicanalítica na história da arte contemporânea a partir do debate entre Hal Foster e Peter Bürger
Em diversos textos que publicou ao longo dos anos 1990, Hal Foster, crítico e historiador de arte estadunidense, aborda as relações entre as vanguardas artísticas europeias dos anos 1910 e 1920 – como o dadaísmo, o construtivismo russo e o surrealismo – e os movimentos artísticos dos anos 1950 e 1960 que ficaram conhecidos como “neovanguardas” – tais como a arte pop, o minimalismo e a arte hiperrealista. Esses movimentos são rechaçados por autores como Peter Bürger, que em sua Teoria da vanguarda (1974) argumenta que a obra de arte vanguardista era produzida tendo o efeito do choque como o mais elevado princípio artístico, porém a eficácia politicamente incerta e psicologicamente única do choque o levou ao seu desgaste, constituindo fator influente no fracasso do projeto vanguardista de recondução da arte à práxis vital, sendo enfim cooptado pela mesma instituição a qual ele visava destruir. Para Bürger, a consequência histórica de tal fracasso é que a experiência vanguardista não poderia ser repetida no campo da produção artística: qualquer pretensa neovanguarda seria uma farsa. Hal Foster argumenta que o modelo historiográfico que embasa tal leitura de Bürger é problematicamente linear e propõe uma alternativa historiográfica baseada na noção psicanalítica de “efeito a posteriori” presente no conceito freudiano do trauma em dois tempos. Esta pesquisa analisa o debate entre esses dois os autores, enfatizando como, na elaboração de suas concepções sobre as relações históricas entre as vanguardas e as neovanguardas, tanto Bürger quanto Foster são influenciados por conceitos psicanalíticos e evidenciando as tensões no modo como ambos situam e interpretam esses conceitos em sua argumentação e extraem deles as suas diferentes historiografias da arte.