Distúrbios da linguagem: sentido e experiência em Merleau-Ponty
A presente pesquisa tem como objeto de análise o caso de patologia da linguagem descrito no capítulo O corpo como expressão e a fala da Fenomenologia da Percepção, qual seja, o da afasia. Em especial, a afasia amnésica dos nomes das cores. É ao afirmar que apenas uma ‘teoria existencial da afasia’ pode dar conta do distúrbio que o filósofo aponta para uma atividade fundamental na qual reside a melhor explicação para a doença. É uma certa configuração da experiência do doente que se apresenta estritamente presa ao seu projeto vital e à situação concreta que lhe torna incapaz de visar metas virtuais. Sendo assim, o déficit linguístico e a truncada percepção das relações entre dadas amostras de cores são dois sintomas relativos, dentre outros, a essa incapacidade de visar o meramente possível. A explicação merleau-pontyana é devedora dos resultados encontrados pela teoria de orientação gestáltica de Gelb e Goldstein, em especial, de suas definições de atitude concreta e atitude categorial. Com isso, a correta descrição do distúrbio sinaliza ao filósofo a possibilidade de esclarecer também o comportamento do falante normal, isto é, como o pensamento habita a linguagem, como o sentido habita a palavra. Tendo deslocado o foco da análise de um fator fisiológico definido em sentido localizacionista, o filósofo deve se comprometer com as relações do organismo com o seu meio para melhor descrever a problemática em discussão. Para tanto, essa pesquisa é orientada por três passos: i. descrição do caso de afasia em Merleau-Ponty e na teoria de matriz holista de Gelb e Goldstein de acordo com as noções de atitude concreta e atitude categorial; ii. demonstrar como essa nova descrição implica no comprometimento de Merleau-Ponty com o organicismo sustentado por essa ciência; iii. apresentar esse par conceitual como modo de delimitação para a problemática da relação entre pensamento e linguagem na primeira fase da obra do autor.