POSSIBILIDADES E DESAFIOS DO ENSINO DE SISTEMÁTICA FILOGENÉTICA E EVOLUÇÃO A PARTIR DE IMAGENS E TRECHOS DOS LIVROS DIDÁTICOS DO PNLD 2021-2024
A evolução ocupa um papel central na biologia e no seu ensino. No Brasil, os livros didáticos são recursos fundamentais em sala de aula. Esta dissertação, em formato multipaper, tem como objetivo compreender os desafios e possibilidades do ensino de sistemática filogenética e evolução por meio da análise de textos e imagens nos livros didáticos de Biologia do Ensino Médio aprovados pelo PNLD (2021–2024). Foi utilizada a metodologia de análise de dados qualitativos estabelecida por Marshall e Rossman (2011), que inclui os seguintes passos: imersão nos dados; criação de categorização; classificação dos dados dentro das categorias desenvolvidas; elaboração de interpretações através de memorandos analíticos; escrita de relatórios. O primeiro artigo compreende a análise sobre a presença de árvores filogenéticas nas coleções. Foram encontrados, no total, 57 diagramas evolutivos, distribuídos por todas as coleções analisadas; porém, com grande discrepância em relação à quantidade destas figuras. Predominam representações de animais, o que constitui um caso de zoochauvinismo. Apenas seis diagramas são voltados para a evolução de plantas, o que reforça a disparidade na percepção botânica. Nenhuma árvore é dedicada exclusivamente a bactérias, algas e fungos, mostrando também uma disparidade na percepção desses grupos de seres vivos. Quatro das sete coleções explicam como interpretar as árvores e indicam que se tratam de hipóteses, mostrando a natureza do conhecimento científico. Apenas onze árvores representavam sinapomorfias, que são características utilizadas para determinar a relação de parentesco entre os seres vivos representados nas árvores; a inserção destas características ajuda os estudantes a interpretarem corretamente estes digramas. O segundo artigo examina como a evolução humana é tratada nos livros. O tema aparece em todas as coleções, mas com diferentes números de páginas dedicadas ao tema. As imagens incluem diagramas, comparações entre humanos, primatas e hominídeos extintos, e aspectos socioculturais. Em nenhuma coleção, a explicação religiosa foi utilizada como comparação ao conhecimento científico. Algumas figuras sugerem, equivocadamente, que a evolução teria como fim o surgimento do ser humano. Como aspecto positivo, pode-se destacar a presença de trechos que discutem o racismo e a natureza do conhecimento científico. O terceiro artigo investiga a presença de explicações teleológicas nos textos, ou seja, explicações que erroneamente atribuem propósitos à evolução biológica. Neste artigo, em particular, também foi utilizado o software AntConc (Anthony, 2022) para buscar, nos livros didáticos, termos-chave associados a explicações teleológicas e, assim, permitir sua localização. Foram identificadas 12 explicações teleológicas associadas à evolução em todas as coleções analisadas à exceção de uma; em sua maioria, estas expressões foram empregadas com o objetivo de alertar professores e estudantes sobre sua imprecisão. Sendo assim, apenas quatro ocorrências ambíguas e duas claramente inválidas foram encontradas. Os três artigos indicam que ainda há possibilidade de melhorias no tratamento do conteúdo de evolução nos livros didáticos. Porém, também mostram pontos positivos na abordagem desse conteúdo pelos materiais, revelando um certo cuidado dos autores com relação a abordagem da temática aqui estudada.