ENTRE ERVAS E MEZINHAS: OS SABERES INDÍGENAS DO SÉCULO XVI COMO PERSPECTIVA PARA UMA HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS DECOLONIAL
Este estudo busca compreender a potencialidade do enfrentamento do silenciamento das epistemologias do sul através da abordagem da História das Ciências e de uma pedagogia decolonial, fomentando o combate à subalternização de saberes, o rompimento com a dominação epistêmica de matriz colonial, ao promover uma reflexão sobre o processo de descolonização do saber, da construção de uma identidade cultural e sobre o conhecimento das raízes histórico-sociais e epistêmicas brasileiras. Tal estudo se desenvolve a partir de reflexões sobre a História das Ciências em interface com o ensino, como estratégia na promoção de uma educação crítica e libertadora, apresentando elementos que possibilitem a compreensão do fazer científico como prática humana e contextualizada. No decorrer do estudo analisa-se o movimento decolonial, o qual almeja superar historicamente a colonialidade pensando em uma nova história na qual os colonizados/ explorados também sejam reconhecidos como agentes participantes e não somente como subalternos e subjugados, expondo, então, a necessidade de um enfrentamento do silenciamento das culturas e epistemes do sul global. As relações propostas neste estudo entre a História das Ciências, a pedagogia decolonial e a invisibilidade das culturas do sul são compreendidas a partir da análise de uma fonte documental datada do século XVI, resultado dos registros do jesuíta Fernão Cardim. Neste documento foram descritas detalhadamente características e funcionalidades curativas de algumas plantas encontradas nas terras do Brasil e de seu uso pelos indígenas. Assim, analisamos o discurso eurocentrista aplicado na descrição das plantas bem como as estratégias de exclusão da fonte de onde foram extraídas as informações da obra, promovendo uma invisibilidade do conhecimento indígena. Após a apresentação dos referenciais teóricos relacionados à temática acima citada, seguimos com a análise de um curso de formação continuada de professores que explorou a existência de um reconhecimento do silenciamento das epistemologias do sul e da potencialidade desta reflexão como estratégia teórica na promoção de uma educação de superação do passado colonial, de cunho reflexiva e crítica.